Dados do Trabalho
Título
INTOXICAÇÃO GRAVE POR BACLOFENO INTRATECAL EM INTRA-OPERATÓRIO: RELATO DE CASO
Descrição
Introdução
O uso de baclofeno intratecal é uma alternativa para espasticidades graves, sobretudo quando terapias motoras não são indicadas e quando a medicação oral é insuficiente ou mal tolerada (cerca de 30% dos indivíduos com espasticidade severa). A indicação formal desta via de administração envolve a falha de tratamentos conservadores, cinesioterapia, crioterapia e eletroestimulação, bem como a presença de fatores complicadores, como distorção da anatomia óssea, infecções urinárias ou úlceras de pressão. As complicações da técnica foram observadas em até 36% dos pacientes, em geral relacionadas ao cateter, seguidas por extravasamento de líquor e falhas no dispositivo de infusão. Intoxicações são raras e geralmente envolvem altas doses de liberação do fármaco.
Relato de caso
Paciente do sexo feminino de 15 anos, 50Kg, diagnósticos de encefalopatia crônica não progressiva secundária a trauma e escoliose importante, com comprometimento pulmonar grave e pneumonias de repetição. Submetida a artrodese de coluna extensa, de T1 a S1, para melhora do quadro pulmonar e da espasticidade. Terapia com baclofeno intratecal prévia à cirurgia, com dose diária de 300mcg/24h. Procedimento realizado sob anestesia venosa total, com monitorização de potencial evocado e manutenção de PAM> 90mmHg com fenilefrina em bolus intermitentes. Após 5h de cirurgia sem intercorrências e mudança de decúbito, apresentou hipotensão e bradicardia refratárias ao vasopressor e midríase fixa após manipulação do cateter e infusão de baclofeno, evoluindo para PCR em AESP, com retorno à circulação após um ciclo de reanimação. Aventada hipótese de choque neurogênico por intoxicação e realizado suporte hemodinâmico, com seguimento em UTI, piora progressiva e evolução para óbito em 3º dia pós-operatório.
Discussão
Os relatos de intoxicação por baclofeno são escassos na literatura e sugerem incidência associada à administração de altas doses. Não há antídoto específico e a fisostigmina se mostrou inferior às terapias de suporte em UTI. A similaridade com a síndrome anticolinérgica não pôde ser confirmada, embora hipotensão e bradicardia sejam sinais comuns aos relatos. A midríase está relacionada à intoxicação por baclofeno oral, com poucas menções sobre a via intratecal. Ademais, os desfechos graves relatados sugerem doses superiores a 800mcg/24h. No caso em questão, causas secundárias de choque não foram confirmadas.
Referência 1
BONOUVRIÉ, Laura A. et al. Surgical complications of intrathecal baclofen in children: A single centre, 20-year retrospective cohort study. European Journal of Paediatric Neurology, v. 37, p. 94-97, 2022.
Referência 2
DELHAAS, E. M.; BROUWERS, J. R. Intrathecal baclofen overdose: report of 7 events in 5 patients and review of the literature. International Journal of Clinical Pharmacology, Therapy, and Toxicology, v. 29, n. 7, p. 274-280, 1991.
Palavras Chave
baclofeno intratecal; Intoxicação
Área
Neurociência e Anestesia Neurocirúrgica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET DO ANESTLIFE - HOSPITAL SÃO DOMINGOS - Maranhão - Brasil
Autores
DENER ALVES CORDEIRO, MARCELO NOGUEIRA DA CRUZ SILVA, WILDNEY LEITE LIMA, GABRIEL LIMA JUREMA, VITOR PAIXAO CRUZ, LUAN PINHO FARIAS