Dados do Trabalho


Título

Raquianestesia total após bloqueio interescalênico: uma complicação rara

Descrição

Introdução: O bloqueio do plexo braquial pela via interescalênica proporciona anestesia para cirurgias no membro superior e região do ombro. O advento da ultrassonografia aprimorou significativamente essas técnicas, permitindo a visualização direta das estruturas nervosas e punções mais precisas, reduzindo o índice de complicações. Porém, a ocorrência de eventos adversos persiste na prática da anestesiologia. Este relato tem como objetivo apresentar um caso de raquianestesia total após bloqueio de plexo braquial via interescalênica e suas repercussões clínicas. Relato de Caso: R.A.R.J, 38 anos, 63 kg, ASA I, foi admitido para tratamento cirúrgico de fratura de clavícula direita, negava comorbidades ou alergias. Após monitorização adequada, optou-se por realizar o bloqueio do plexo braquial via interescalênica associado ao bloqueio do plexo cervical superficial. O paciente foi colocado em posição supina, com a cabeça voltada para o lado contralateral da punção, as raízes nervosas foram identificadas por ultrassonografia e utilizou-se uma agulha para bloqueio periférico A10 cm. A aspiração não evidenciou sangue ou líquor, injetou-se 20 ml de solução de ropivacaína a 0,5% e lidocaína com vasoconstrictor a 1%. Nos últimos 5 ml, a visualização da ponta da agulha foi perdida e, após 2 minutos de procedimento, o paciente apresentou apneia, midríase bilateral e pupilas não fotorreagentes. Foi necessário realizar ventilação sob máscara a 100%, IOT em sequência rápida e manutenção de hipnose com sevoflurano a 1%, sob ventilação mecânica controlada e devido à instabilidade hemodinâmica acentuada, foi necessária a correção da PA com vasopressores. O procedimento cirúrgico durou 80 minutos e procedeu-se a extubação em sala de cirurgia, 3 horas após o evento adverso, com preservação dos sinais vitais. O paciente foi encaminhado à SRPA por 6 horas, recebendo alta no dia seguinte, sem outras complicações. Discussão: Tal bloqueio envolve a injeção de anestésico local na fenda entre os músculos escaleno médio e anterior ao nível de C6. As complicações são estimadas em 1,1%, com relatos de lesões nervosas, complicações respiratórias, cardiovasculares, toxicidade sistêmica do anestésico local e efeitos no SNC. A dilatação pupilar e a ausência de reatividade podem ser explicadas pela anestesia do núcleo de Edinger-Westphal e os efeitos hemodinâmicos são atribuídos ao bloqueio das fibras cardioaceleradoras. O deslocamento mínimo da agulha é suficiente para resultar em punções intraneurais, intravasculares ou intradurais, porém, ressalta-se que a maioria delas podem ocorrer devido a variações anatômicas, dificuldades na identificação das estruturas e que a utilização do estimulador de nervo periférico poderia ter reduzido o risco da complicação descrita. Este caso ressalta a importância da vigilância e da adoção de técnicas auxiliares para minimizar o risco de complicações graves associadas ao bloqueio de plexo braquial via interescalênica.

Referência 1

DUTTON, RICHARD P.; ECKHARDT, WILLIAM F.; SUNDER, N. Total Spinal Anesthesia after Interscalene Blockade of the Brachial Plexus. Anesthesiology, v. 80, n. 4, p. 939–941, 1 abr. 1994.

Referência 2

‌LENTERS, T. R.; DAVIES, J.; MATSEN, F. A. The types and severity of complications associated with interscalene brachial plexus block anesthesia: Local and national evidence. Journal of Shoulder and Elbow Surgery, v. 16, n. 4, p. 379–387, 1 jul. 2007.

Palavras Chave

Bloqueio do Plexo Braquial; Complicações Intraoperatórias

Área

Anestesia Regional

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

RESIDÊNCIA - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROF ALBERTO ANTUNES UFAL - Alagoas - Brasil

Autores

JOÃO VICTOR DE MELO BARROS, ROBERTA RIBEIRO BRANDÃO CALDAS, JOSÉ VINICIUS SILVA BEZERRA, ANA CECÍLIA CAPANE BONAGURA CAVALCANTE, ROQUE RICARDO RODRIGUES SORIANO, ARTUR VINICIUS LIMA E SILVA