Dados do Trabalho
Título
Acidentes escorpiônicos e desenvolvimento de resistência aos anestésicos locais: uma revisão narrativa de literatura.
Descrição
Justificativa e objetivos: Dados publicados em 2022 pelo Ministério da Saúde mostram que os acidentes escorpiônicos foram responsáveis por 183.738 registros, o que correspondeu a 62,83% do total de registros de animais peçonhentos. O mesmo boletim estima que 2,3 bilhões de pessoas vivam em áreas sob risco de acidentes escorpiônicos no mundo, sendo as áreas tropicais, como o Brasil, as de maior risco. A resistência aos anestésicos locais ainda não é um fenômeno completamente desvendado pela ciência, porém, além da etiologia multifatorial, também se questiona se o histórico de picadas de escorpião poderia influenciar no desenvolvimento de tal resistência. O objetivo deste estudo é narrar o que se encontra sobre o assunto na literatura atual. Método: Trata-se de uma revisão narrativa acerca da relação entre acidentes escorpiônicos e o desenvolvimento de resistência aos anestésicos locais, baseada em artigos coletados nas bases de dados científicas do PubMed, LILACS e SciELO, no mês de julho de 2024. Os descritores usados foram “scorpion” e “local anesthesia”, intercruzados pelo operador booleano AND. Como critérios de inclusão, foram utilizados artigos do idioma inglês e português, com publicação entre os anos de 2013 a 2024. Após aplicação desses critérios, foram encontrados 11 artigos, dos quais 6 foram analisados Resultados: A hipótese trazida pelo estudo de Panditrao é que o veneno do escorpião e os anestésicos locais compartilham um ponto de interação comum no canal de sódio, especificamente no segmento IV-S6 do domínio quatro da subunidade alfa. O veneno do escorpião é composto por vários peptídeos altamente antigênicos. Dessa forma, pode-se inferir que uma picada anterior de escorpião pode levar à formação de anticorpos contra esses peptídeos, que permanecem na circulação por um longo período. Quando esses pacientes são expostos a anestésicos locais, esses anticorpos podem competir pelo mesmo local de ligação no canal de sódio (IV-S6). Essa competição pode resultar em uma diminuição da eficácia dos anestésicos locais, causando falhas ou eficácia parcial na sua ação. Ainda, foi demonstrado que, frente à raquianestesia, pacientes com histórico prévio de acidente escorpiônico apresentaram desfechos sensitivos e motores insatisfatórios, como manutenção da sensibilidade dolorosa e atraso do bloqueio motor, quando comparados a pacientes sem histórico prévio. Conclusões: Foi-se demonstrado que, em pacientes com histórico de picadas de escorpião, houve um aumento significativo no tempo de início e no tempo necessário para alcançar o pico dos bloqueios sensoriais e motores. Com base nisso, é importante que os profissionais de saúde estejam cientes da possibilidade de falhas no bloqueio anestésico em pacientes com histórico de picadas de escorpião e considerem estratégias alternativas na condução desses casos. Apesar disso, mais estudos tornam-se necessários para a elucidação destes achados.
Referência 1
Secretaria de vigilância em saúde e ambiente do Ministério da Saúde, Boletim epidemiológico: Acidentes escorpiônicos no Brasil em 2022, Vol. 55, 2024
Referência 2
Panditrao MM, Panditrao MM, Panditrao AM. Development of resistance to the effect of local anesthetic agents administered via various routes due to single or multiple, previous scorpion bites: a proposed hypothesis and reporting a yet unrecognized phenomenon. J Anesth Crit Care Open Access. 2015;3(5):329‒333.
Palavras Chave
Anestésicos locais; Escorpião; Acidentes peçonhentos
Área
Medicina Perioperatória
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET JOÃO PESSOA - PB - Paraíba - Brasil
Autores
HELOÍSA FABIANNE BIONE DE FIGUEIREDO, ADA RHALINNE DIAS ARRUDA SILVA ARAÚJO, LUÍS ANTÔNIO GARCIA NAVARRO JÚNIOR, ERICK DE PAIVA LOPES FILHO, MARIA DE FÁTIMA OLIVEIRA DOS SANTOS