Dados do Trabalho
Título
Bloqueio e rizotomia para neuropatia intercostal em paciente após quadro leve de COVID-19: relato de caso
Descrição
INTRODUÇÃO
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor neuropática é aquela resultante de lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial.
Em se tratando de neuropatia intercostal, embora as causas mais comuns da condição sejam trauma osteomuscular, infecção por herpes-zóster e toracotomia, a infecção por COVID-19 tem se apresentado como uma etiologia proeminente de neuropatias em geral.
Nesse sentido, o presente estudo retrata um caso de neuropatia pós-COVID na forma de dor torácica, uma manifestação rara, visando evidenciar seu processo de diagnóstico e possíveis condutas.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 47 anos, apresentou dor irradiada em gradil costal direito, chegando até processo xifóide (dermátomo de T6/T7), que iniciou após história de COVID leve há três anos e persistiu desde então. A dor era constante, em queimação, associada a dormência e sensação de choque, acometendo os dermátomos de T6/T7, com piora à inspiração forçada, à noite e ao frio. Paciente usou doses otimizadas de gabapentinoides, antidepressivos e analgésicos. Foi realizada ressonância magnética, sem alterações, e uma eletroneuromiografia, que revelou neuropatia intercostal direita, axonal, ao nível de T6-T7 à direita e medial, com padrão de reinervação crônica de grau moderado.
Foi feito um bloqueio guiado por USG nos nervos intercostais em T6 e T7 D com 5 mL de xilocaína 1%. A paciente apresentou melhora significativa da dor, sendo optado por realizar rizotomia por radiofrequência do respectivo dermátomo junto à equipe de Neurocirurgia, quando apresentou regressão completa do quadro álgico até o momento deste relato.
DISCUSSÃO
A neuralgia pós-COVID, associada à chamada COVID-longa, tem sido frequentemente descrita, mesmo para pacientes que foram assintomáticos ou tiveram sintomas mais brandos. Sua incidência é baixa, mas significativa, em torno de 2,9-5,7%. ¹
A distinção entre dor na COVID-19 longa e dor crônica de início recente não é clara. Os pacientes que sobreviveram à COVID-19 têm uma incidência significativamente maior de dor crônica do que os pacientes que não foram infectados (65,2% vs. 11,0%, respectivamente, p=0,001) e uma maior prevalência de cefaleias de repetição (39,1% vs. 2,7). %, p=0,001). ²
A neuralgia intercostal é uma manifestação menos comum em pacientes com COVID-longa¹, porém sua descrição no presente estudo reacende o alerta para a necessidade de melhor caracterização e investigação dos sintomas neurológicos relacionados ao vírus.
O tratamento realizado ainda carece de mais estudos. Enquanto os bloqueios intercostais com anestésicos locais, corticoesteroides, ou denervação com solução alcoólica para controle da dor refratária ao uso de medicamentos parecem bem estabelecidos na literatura, a rizotomia ainda possui maior indicação em casos de neuralgia trigeminal. O presente relato de caso advoga por esta terapia em outros casos de neuropatia crônica na era pós-pandêmica.
Referência 1
Williams, Laura Dawn, and Panagiotis Zis. “COVID-19-Related Neuropathic Pain: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Journal of clinical medicine vol. 12,4 1672. 20 Feb. 2023.
Referência 2
SOARES, F. H. C. et al. Prevalence and characteristics of new‐onset pain in COVID‐19 survivours, a controlled study. European Journal of Pain, v. 25, n. 6, p. 1342–1354, 8 abr. 2021.
Palavras Chave
NEUROPATIA; Bloqueios Regionais; COVID-19
Área
Neurociência e Anestesia Neurocirúrgica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET DR. OTÁVIO DAMÁZIO FILHO - Pernambuco - Brasil
Autores
ERLAN PÉRCIO LOPES RUFINO, PRISCILA EVARISTO DE CARVALHO, AMÉLIA CABRAL CAMPOS DE ANDRADE, INGRID LILIANNE ALMEIDA ARAÚJO, JOSÉ MIGUEL FALCÃO RODRIGUES SAMPAIO, BEATHRIZ GODOY VILELA BARBOSA