Dados do Trabalho


Título

O uso de análogos do GLP-1 e o retardo de esvaziamento gástrico no manejo anestésico

Descrição

Justificativa e objetivos: O jejum pré-operatório possui grande relevância na prática anestésica e algumas medicações alargam o tempo de esvaziamento gástrico, como os análogos do GLP-1, possibilitando a presença conteúdo estomacal mesmo após o adequado jejum. Portanto, diante do maior uso da referida medicação na atual prática médica, é fundamental o seu entendimento farmacodinâmico, pois o paciente ao apresentar resíduos gástricos no momento da anestesia, torna-se mais suscetível à regurgitação, a broncoaspiração e pneumonia, aumentando a morbimortalidade. O presente estudo tem por objetivo analisar a relação entre o uso de análogos do GLP-1, o retardo do esvaziamento gástrico e consequentes riscos no manejo anestésico.

Método: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, realizada no período de junho e julho de 2024, selecionando artigos originais na base de dados PubMed, com os seguintes descritores: “Gastric Emptying” AND “GLP-1 Agonist” AND "Anesthesia". Após submissão de critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados dois estudos, em língua inglesa, publicados nos últimos dois anos de relevância para a temática.

Resultados: Os análogos de GLP-1 (Glucagon-like peptide-1), como a Liraglutida e Semaglutida, são medicações utilizadas no tratamento do diabetes tipo 2 e, recentemente, aprovado pela Anvisa para tratamento da obesidade. Tais fármacos mimetizam a ação do hormônio incretina GLP-1 e, com isso, há uma redução da glicemia e retardo do esvaziamento gástrico. Portanto, mesmo cumprindo o jejum pré-operatório adequado, o paciente pode apresentar conteúdo gástrico significante no ato anestésico. Através de um estudo de Caso-Controle, realizado com pacientes submetidos à esofagogastroduodenoscopia, sob sedação profunda/anestesia geral, Kobori e col. (2023) perceberam que, no grupo em tratamento com GLP-1, a proporção de resíduos gástricos foi 5,4% versus 0,4% do grupo controle. Já Sudipta e col. (2024), analisando 124 pacientes submetidos à procedimento eletivo sob anestesia, verificou que a prevalência de resíduo gástrico foi de 56% (35 de 62) nos pacientes em uso de GLP1 contra 19% (12 de 62) do grupo controle. Nesse contexto, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (2023), seguindo as indicações da Sociedade Brasileira de Diabetes, apontam pela suspensão dessas medicações por 21 dias, devendo ser substituídas por outra terapia, quando necessário. Ademais, a utilização da Ultrassonografia beira leito revela-se como uma importante estratégia não invasiva, precisa e de fácil manejo, a qual pode ser realizada pelo anestesista, na tentativa de minimizar essa complicação.

Conclusões: Diante do exposto, nota-se que devido o retardo do esvaziamento gástrico dos pacientes em uso de agonista de GLP-1, torna-se indispensável adotar medidas para prevenção, como a suspensão da medicação por tempo pré estabelecido e a realização de ultrassom gástrico à beira leito, garantindo a segurança do paciente e a otimização do manejo anestésico.

Referência 1

Kobori, T. et al. Association of glucagon-like peptide-1 receptor agonist treatment with gastric residue in an esophagogastroduodenoscopy. J Diabetes Investig. J Diabetes Investig. 2023;14(6):767-773. doi:10.1111/jdi.14005

Referência 2

Sen, S. et al. Glucagon-Like Peptide-1 Receptor Agonist Use and Residual Gastric Content Before Anesthesia. JAMA Surg. 2024;159(6):660-667. doi:10.1001/jamasurg.2024.0111

Palavras Chave

Análogos GLP-1; Broncoaspiração; Anestesia

Área

Sistemas Gastrointestinais e Hepáticos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

FACULDADE DE MEDICINA NOVA ESPERANÇA - FAMENE - Paraíba - Brasil

Autores

LAÍS SCHULER DE LUCENA CHAVES, LUANA DE FREITAS MARQUES, MARIA CAROLINE GALIZA DE MORAIS, ARTHUR GALVÃO RODRIGUES COSTA, GABRIEL LUCENA DE SOUSA REIS, ROBERTO CAVALCANTI CIRAULO NETO