Dados do Trabalho


Título

Estado de mal epiléptico após uso de flumazenil em endoscopia digestiva alta: relato de caso

Descrição

INTRODUÇÃO
Há apenas um relato de estado de mal epiléptico após uso de flumazenil em endoscopia digestiva alta (EDA), de 1991, com desfecho favorável após hidantalização 1 . A taxa de complicações em EDA é baixa, e na literatura atual não há estudos mostrando riscos no uso de reversores da sedação 2.
Sedação é vital para possibilitar a realização de procedimentos endoscópicos. Dentre as drogas usuais, destacam-se os benzodiazepínicos, em especial o midazolam pelo rápido efeito e propriedades amnésicas. O flumazenil é amplamente utilizado para reverter a sedação e abreviar o tempo de recuperação, com perfil de segurança demonstrado na literatura.²
RELATO DE CASO
Paciente, 45 anos, sexo feminino, foi submetida à EDA eletiva para investigação de epigastralgia. Na avaliação pré-anestésica negou comorbidades ou uso de medicações. Após evento adverso, foi obtida história pessoal de lúpus eritematoso sistêmico e de crises convulsivas de etiologia não conhecida, com uso prévio de topiramato, suspenso por conta própria há 2 meses.
Realizada sedação para endoscopia com midazolam 5mg, fentanil 50µcg e propofol30 mg. Ao término do exame, reversão com flumazenil 0,2mg. A paciente evoluiu com crises tônico-clônicas generalizadas, apresentando sinais vitais estáveis.
Foram administrados diazepam 10mg. Como persistia quadro convulsivo, realizada nova dose após 5 minutos, sem resposta.
Após 25 minutos, definido estado de mal epiléptico, indução com 100mg de propofol, 150mcg fentanil e 50mg de rocurônio, garantida proteção de via aérea com tubo 7,5 com auxílio de lâmina articulada e bougie por Cormack-Lehane IIIa. Encaminhada à terapia intensiva para hidantalização, realizou neuroimagem que negou formações expansivas ou insulto isquêmico. Persistiu com quadro de mioclonias nas tentativas de desmame da sedação, por 10 dias. Devido à piora respiratória, optado por troca do tubo orotraqueal, quando evoluiu com parada cardiorrespiratória, sem resposta às manobras de reanimação.
DISCUSSÃO
Diante da baixa taxa de eventos adversos em sedação para EDA, em especial com uso de reversores como flumazenil, torna-se essencial relatar desfechos graves ou fatais. ² Sabe-se que o quadro basal de epilepsia predispõe à redução do limiar convulsivo, que pode ter sido o gatilho principal para deflagrar o estado de mal epiléptico nesse caso2.
A sedação é benéfica em EDA, reduzindo desconforto e ansiedade, podendo ser realizada com diversas drogas anestésicas 2. Nesse contexto, o controle de comorbidades e a avaliação pré-anestésica podem orientar o anestesista quanto à escolha.
É necessário ressaltar que as complicações mais recorrentes no cenário da endoscopia são relacionadas a profundidade da sedação, o que favorece o uso de reversores como flumazenil, a fim de evitar hipoxemia, hipotensão e arritmias 2.
Diante do exposto, os autores recomendam mais estudos a fim de elucidar os efeitos do flumazenil fora do centro cirúrgico, para melhor compreensão dos riscos e benefícios nesse cenário.

Referência 1

O’Connor HJ. Status epilepticus following administration of flumazenil after endoscopy. Endoscopy, 1991, Jan;23(1):53.

Referência 2

Lv LL, Zhang MM. Up-to-date literature review and issues of sedation during digestive endoscopy. Wideochir Inne Tech Maloinwazyjne. 2023 Sep; 18(3): 418–435.

Palavras Chave

Endoscopia digestiva; ESTADO DE MAL EPILÉPTICO; FLUMAZENIL

Área

Anestesia e sedação fora da sala de cirurgia

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET DR. OTÁVIO DAMÁZIO FILHO - Pernambuco - Brasil

Autores

PRISCILA EVARISTO DE CARVALHO, AMÉLIA CABRAL CAMPOS DE ANDRADE, INGRID LILLIANE ALMEIDA ARAÚJO, JOSÉ MIGUEL F R SAMPAIO, MARINA BRITO PONTES, RUBIA BEZERRA MUNIZ DE SOUSA