Dados do Trabalho
Título
Anestesia para parto cesáreo em gestante com hepatite: relato de caso
Descrição
Introdução
A hepatite na gestação representa um desafio para a saúde materna e fetal. Esta condição, caracterizada por inflamação intensa do fígado, pode surgir devido a infecções virais, hepatite autoimune, síndrome HELLP e NASH (Non-alcoholic steatohepatitis). A presença de hepatite grave na gestação pode levar a complicações severas, como insuficiência hepática, parto prematuro e morte. Compreender a fisiopatologia e as opções de abordagens anestésicas disponíveis são de crucial importância para melhorar os desfechos materno-fetais.
Relato de caso
Paciente do sexo feminino, 19 anos, G1P0A0, idade gestacional de 30s05d, negava comorbidades ou alergias. Foi admitida com história de icterícia importante e desconforto abdominal há 1 semana. Ao exame físico, apresentava confusão mental, icterícia 3+/4+ e dor moderada à palpação em abdome superior. PA 130x80mmHg, FC 120bpm, SpO2 96% em ar ambiente. Exames complementares na tabela 1.
Evoluiu com piora clínica, decidiu-se a interrupção da gestação com anestesia geral. Foram utilizados fentanil 3 mcg.kg-1, propofol 2 mg.kg-1 e rocurônio 1,2 mg.kg-1 na indução, além de sevoflurano 2% na manutenção anestésica. Realizada transfusão de um concentrado de hemácias no intra-operatório. Procedimento transcorreu com estabilidade hemodinâmica e sem intercorrências. A paciente foi extubada após procedimento e transferida para UTI geral. Recém-nascido obteve APGAR 2/9 e seguimento na UTI neonatal.
Discussão
A anestesia obstétrica representa um desafio para todo anestesista. Esse desafio aumenta quando associado a descompensação da homeostase, como acontece na hepatite grave. Um dos principais desafios é a escolha entre anestesia geral ou regional, já que é intrínseco à hepatite um grau de insulto hepático. Na literatura, há relatos de sucesso descritos com ambas as técnicas.
A anestesia geral está indicada na presença de disfunção hepática grave com coagulopatia, como foi o caso. A preocupação com relação a essa modalidade reside na possibilidade de algumas drogas causarem diminuição do fluxo hepático ou gerarem metabólitos hepatotóxicos, além do risco aumentado de broncoaspiração na indução anestésica. O propofol foi escolhido por não apresentar uma farmacocinética alterada pela doença hepática e não reduzir o fluxo sanguíneo hepático. O rocurônio foi utilizado pela facilidade de ação rápida necessária em intubações em sequência rápida e reversão com sugamadex. Já o sevoflurano tem mostrado segurança em casos semelhantes.
A etiologia ainda não foi definida, mas a paciente se encontra em investigação de etiologia autoimune ou secundária à NASH. Ainda carecem de estudos robustos sobre o tema, porém a hepatite grave durante a gravidez exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cuidados intensivos e vigilância contínua para minimizar riscos durante o parto.
Referência 1
Hansen JD, Perri RE, Riess ML. Liver and Biliary Disease of Pregnancy and Anesthetic Implications: A Review. Anesth Analg. 2021 Jul 1;133(1):80-92. doi: 10.1213/ANE.0000000000005433.
Referência 2
Boregowda G, Shehata HA. Gastrointestinal and liver disease in pregnancy. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2013; 27:835-53
Palavras Chave
pregnancy
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Privado
Instituições
CET HOSP.UNIV.PROF.ALBERTO ANTUNES - Alagoas - Brasil
Autores
WILLYAM BARROS SARAIVA, ROBERTA RIBEIRO BRANDAO CALDAS, RAFAEL PETERSON SOARES SANTOS , LARISSA CERQUEIRA DE MORAES, JOSICLEITON MORAES DE LIMA, EDIVALDO DE HOLANDA JÚNIOR