Dados do Trabalho
Título
HEMATOMA SUBDURAL BILATERAL APÓS RAQUIANESTESIA: RELATO DE CASO
Descrição
Introdução: A raquianestesia é uma técnica de bloqueio do neuroeixo amplamente utilizada em diversas cirurgias, reconhecida por sua segurança. A complicação mais comum associada a essa técnica é a cefaleia pós-punção dural, caracterizada por uma dor de cabeça occipital ou frontal que se agrava ao sentar ou ficar de pé e melhora ao deitar. Esta condição pode ser acompanhada de náuseas, vômitos, diplopia, tontura, e em casos raros, crises convulsivas. Sua fisiopatologia envolve um processo de hipotensão do líquor no espaço subaracnoide craniano. Essa hipotensão provoca tração dural, resultando em dor. Em casos raros, a hipotensão pode levar à ruptura das veias pontes, gerando um hematoma entre a dura-máter e o espaço subaracnoide. Geralmente, a evolução é benigna e autolimitada. O tratamento inicial inclui repouso, hidratação, analgésicos e cafeína, com a possibilidade de realização de um "blood patch" em casos persistentes.
Relato de caso: Mulher, 38 anos, 58 kg, primigesta, com trombofilia não especificada em uso de enoxaparina 40 mg SC. Foi submetida a raquianestesia para cesariana, respeitando o intervalo de 24 horas desde a última dose do anticoagulante. Utilizou-se agulha Quincke 27G, com injeção de 11 mg de bupivacaína pesada e adjuvantes. No terceiro dia pós-procedimento, iniciou cefaleia pós-raquianestesia clássica. No quinto dia, foi realizado bloqueio esfenopalatino com swab nasal embebido em 5 ml de ropivacaína 0,5% + lidocaína 1%, resultando em resolução temporária do quadro. No dia seguinte, a paciente apresentou cefaleia parietal à esquerda, de intensidade moderada e caráter flutuante, mesmo com o uso de AINEs, analgésicos e cafeína. Após duas semanas de cefaleia persistente, foi reavaliada por um anestesista de outro serviço e submetida a um "blood patch", sem intercorrências, mas sem melhora significativa. A cefaleia evoluiu progressivamente para um quadro intenso, generalizado e incapacitante, sem déficits neurológicos. Devido à evolução atípica, foi realizada TC de crânio, que diagnosticou hematomas subdurais frontotemporoparietais bilaterais. A neurocirurgia indicou drenagem bilateral por trepanações, com necessidade de dreno à direita. A paciente evoluiu bem e recebeu alta após dois dias, mantendo uma cefaleia leve persistente por duas semanas, com evolução benigna.
Discussão: Embora extremamente raro, o hematoma subdural pode resultar em sequelas significativas e, potencialmente, levar a óbito. O diagnóstico pode ser desafiador devido à semelhança dos sintomas com a cefaleia pós-punção dural e a apresentação de sintomas inespecíficos. O conhecimento dessa complicação é crucial para um diagnóstico preciso e a atenção às alterações no quadro da cefaleia inicial é fundamental.
Referência 1
Brull R, Macfarlane AJR, Chan VWS. Anestesia Espinal (Raquianestesia), Epidural e Caudal. In: Brown DL. Miller Anestesia Tradução. 8 ed. Elsevier, 2019; 4959-5062
Referência 2
Gago G, Santin R, Martins OG et al. Hematoma Subdural Intracraniano após raquianestesia: relato de dois casos com diferentes desfechos. Arq Bras Neurocir. 2019, 38:215-218
Palavras Chave
Hematoma; subdural; raquianestesia
Área
Anestesia Regional
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET SEDARE - COMPLEXO HOSP.SÃO MATHEUS - Mato Grosso - Brasil
Autores
MARA RÚBIA ARAUJO CARDOSO, VANESSA TACIANA NUNES CARLOTO, ALINE FELIPE ROCHA OLIVEIRA, MARIANA DE AGUIAR MAIA, LUCAS HENRIQUE MOURA BORGES, RICARDO GONÇALVES PRADO