Dados do Trabalho
Título
HIPERCALEMIA COMO MANISFESTAÇÃO ÚNICA DE REAÇÃO TRANSFUSIONAL: RELATO DE CASO
Descrição
Introdução
A transfusão de hemocomponentes é prática frequente no âmbito hospitalar e no manejo intraoperatório, capaz de salvar muitas vidas. Como toda intervenção, não está isenta de riscos. Reações transfusionais são raras, ocorrendo em cerca de 1% das transfusões, mas podem ser graves. Por este motivo, é fundamental que os profissionais realizem diagnóstico precoce e manejo adequado para prevenir desfechos indesejáveis. A seguir relatamos um caso em que nos deparamos com este cenário.
Descrição da Série
Masculino, 25 anos, previamente hígido, vítima de politrauma com fratura de vértebras cervicais e torácicas. Na admissão hospitalar, foi monitorizado e estabilizado sem necessidade de transfusão de hemocomponentes. Programada abordagem cirúrgica de artrodese torácica via posterior (T4-T9) programada após 8 dias do trauma. Realizada transfusão de 1 (uma) unidade de concentrado de hemácias no dia anterior ao procedimento para otimização clínica pré-operatória. Admitido em sala cirúrgica eupneico em ar ambiente e estável hemodinamicamente, monitorizado e submetido a anestesia geral multimodal sem intercorrências. Obtidos dois acessos periféricos calibrosos e linha arterial invasiva. Procedimento com duração de 5 horas, sangramento habitual para o porte cirúrgico, mantida estabilidade clínica e hemodinâmica. Optado por transfusão de 1 (uma) unidade de concentrado de hemácias no intraoperatório. Exames após transfusão (tabela 1) identificaram hipercalemia, confirmada em nova coleta, sem alterações eletrocardiográficas ou hemodinâmicas. Instituídas medidas para tratamento do distúrbio hidroeletrolítico com boa resposta. Paciente extubado após o procedimento e encaminhado ao CTI estável e eupneico. Diante da hipótese de reação transfusional, notificada suspeita ao banco de sangue e coletadas provas de hemólise (tabela 2) que corroboram para este diagnóstico. Paciente evoluiu com boa recuperação e posterior alta hospitalar.
Discussão
As reações transfusionais são eventos adversos raros, mas que carecem de reconhecimento imediato e tratamento precoce. Diante da ampla utilização da hemoterapia no intraoperatório, cabe ao médico anestesista elevada suspeição clínica para as possíveis repercussões dessa terapêutica. A sintomatologia é diversa e inespecífica, podendo cursar com febre, náuseas, dor, dispneia, rash cutâneo e hipotensão, associadas ou não a alterações laboratoriais. Todos estes sintomas podem ser facilmente confundidos com outros diagnósticos diferenciais no contexto peri e pós-operatórios. Além disso, o paciente sob anestesia pode não manifestar alterações clínicas significativas, tornando ainda mais desafiador este diagnóstico. Qualquer suspeita de reação transfusional deve proceder com a interrupção imediata da administração da bolsa, notificação ao banco de sangue e manejo clínico das suas repercussões.
Referência 1
HENDRICKSON, Jeanne E.; FASANO, Ross M. Management of hemolytic transfusion reactions. Hematology, [S. l.], v. 2021, n. 1, p. 704–709, 2021. DOI: https://doi.org/10.1182/hematology.2021000308. Disponível em: https://ashpublications.org/hematology/article/2021/1/704/482978/Management-of-hemolytic-transfusion-reactions.
Referência 2
HASAN, Rida Abid; ASIF, Maryam; TUOTT, Erin E.; STANSBURY, Lynn G.; HESS, John R. Rates of delayed hemolytic transfusion reactions observed in a trauma center. Transfusion, [S. l.], v. 12, n. 123, 2021. DOI: https://doi.org/10.1111/trf.16433.
Palavras Chave
reação tranfusional; hemólise; hipercalemia
Área
Sistema Hematológico, Coagulação, Transfusão, Reposição Volêmica e PBM
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
RESIDÊNCIA - HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO USP - São Paulo - Brasil
Autores
MARIANA DINAMARCO MESTRINER, SERGIO MARIANO ZUAZO, THARCISIO PEREIRA BRITO, IGOR CARDOSO FERNANDES, LIVIA DEVOS FALEIROS