Dados do Trabalho
Título
Cesárea em gestante com mielomeningocele corrigida, qual técnica anestésica escolher?
Descrição
Introdução: o manejo anestésico de gestantes com histórico de mielomeningocele corrigida apresenta desafios significativos devido a graves deficiências neurológicas, como incapacidade de deambulação, incontinência urinária, hidrocefalia, escoliose e distúrbios gastrointestinais (GI), fator de risco para anafilaxia a látex por cateterismo intermitente, portanto e o anestesiologista deve estar preparado para oferecer a melhor abordagem anestésica pra estes pacientes.
Relato de caso: gestante de 36 anos, com história de mielomeningocele corrigida, derivação ventrículo-peritoneal e confecção de neobexiga, foi admitida para cesárea eletiva. Ao exame físico apresentava déficits motores e sensitivos nos membros inferiores, além de preditores de via aérea difícil, como pescoço curto, circunferência cervical aumentada, IMC > 30 kg/m² e classificação de Mallampati 3 e escoliose importante. A técnica anestésica escolhida foi a anestesia geral, devido a contra-indicação ao bloqueio de neuroeixo. A sala foi prepara para látex free, otimizado o posicionamento com uso de coxin interescapular e occipital, dorso elevado, monitorização com BIS, cardioscopia, PANI e SpO2 e pré oxigenada sob máscara facial por 3 minutos com oxigênio a 100% além de manutenção de cateter nasal. A indução anestésica foi realizada em sequência rápida, com Propofol e Remifentanil, optando por rocurônio devido ao risco de hipercalemia grave nestes pacientes com uso de Succinilcolina; A intubação orotraqueal realizada com videolaringoscópio e tubo 7.0 e manutenção anestésica com sevoflurano e remifentanil em bomba de infusão contínua. Para analgesia pós-operatória foram realizados 5 mg de morfina intravenoso associado a bloqueio do plano transverso do abdome bilateralmente, guiado por ultrassonografia, com a administração de 150 mg de ropivacaína a 0,375% Para a reversão do bloqueador neuromuscular, foram administrados 200 mg de sugamadex e realizada a extubação com paciente consciente e cooperativa. A paciente foi encaminhada à sala de recuperação pós-anestésica, onde evoluiu sem intercorrências. A paciente deu à luz a uma recém-nascida do sexo feminino, com APGAR de 4 no primeiro minuto e 7 no quinto minuto. A recém-nascida foi encaminhada à UCI para monitorização contínua, recebendo alta para a enfermaria no dia seguinte.
Discussão: a mielomeningocele é um defeito de fechamento do tubo neural que ocorre nas primeiras semanas de gestação, em que há exposição ao ambiente de segmentos da medula espinhal e das meninges. Em pacientes com doenças neurológicas preexistentes, como a mielomeningocele, mesmo que corrigida cirurgicamente, o bloqueio do neuroeixo é geralmente evitado devido ao risco aumentado de lesões nervosas adicionais. Portanto, visando minimizar riscos e otimizar a segurança materno-fetais, a anestesia geral foi escolhida como técnica anestésica para essa paciente com preparo adequado da via aérea no intuito de melhorar o desfecho e reduzir o risco de complicações.
Referência 1
2. Murphy, C. J., et al. "Spinal dysraphisms in the parturient: implications for perioperative anaesthetic care and labour analgesia." International Journal of Obstetric Anesthesia 24.3 (2015): 252-263.
Referência 2
5. Lal, Shankar, et al. "Anesthetic management of cesarean section of a wheelchair bound parturient with myelomeningocele." Anaesthesia, Pain & Intensive Care 24.5 (2020): 565-567.
Palavras Chave
Mielomeningocele; cesariana eletiva
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
CET INTEGRADO DE CAMPINAS - São Paulo - Brasil
Autores
FERNANDA MORSELLI LÓ RÉ, WILSON GONÇALVES SOMBRA, LAIS DA COSTA SILVA, MAURICIO MARSAIOLI SERAFIM, LUIS FERNANDO LIMA CASTRO, CANDIDO AMARAL SANCHEZ