Dados do Trabalho


Título

BLOQUEIO SUBARACNOIDEO PARA CESARIANA EM GESTANTE PORTADORA DE EPILEPSIA DE AUSENCIA JUVENIL ASSOCIADA A MUTAÇÃO DE CANAL DE SÓDIO

Descrição

Introdução: Epilepsia de Ausência Juvenil (EAJ) é uma patologia genética, que apresenta mutação no canal de sódio, que podem provocar alterações nas propriedades eletrofisiológicas dos canais, levando ao aumento da excitabilidade ou diminuição da inibição neural. O desequilíbrio do funcionamento das redes neuronais leva ao surgimento das crises epilépticas. Os anestésicos locais ligam-se aos canais de Na, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular, o que gera um questionamento quanto ao seu uso em bloqueio de neuroeixo em pacientes com EAJ. Esse relato de caso se refere a um bloqueio subaracnoideo em uma gestante com EAJ e seu desfecho, com o objetivo de demonstrar a importância da atenção do anestesiologista aos diferentes tipos de epilepsia e seu manejo. Relato de Caso: Mulher, 20 anos, 66 kg, 1,63 cm. Idade gestacional de 38 semanas e 6 dias, G1P0. Epilepsia diagnosticada aos 18 anos, com tratamento irregular desde então. Com 35 semanas de gestação apresentou fala com frases desconexas, associadas a olhar fixo seguido por sono breve com despertar sem lembrar do ocorrido. Após 30 minutos apresentou duas crises tônico-clonicas com duração de 1min, sem perda esfincteriana. Paciente procurou o serviço de obstétrica do HUPE onde foi internada, com tratamento de carbamazepina, Lamotrigina, Sulfato ferroso e fenitoina nas crises. Foram realizados exames clínicos e de ultrassom que não constataram alterações fetais. Desde a internação, houve aumento da frequência das crises convulsivas, tendo melhora do quadro quando a fenitoina foi suspensa e introduzido Acido Valproico ao tratamento, alcançando 14 dias sem crises. A equipe da obstetrícia e neurologia solicitaram um parecer da anestesiologia para programação da cesariana, e após uma sessão clínica foi decidido pela raquianestesia. Além da organização para o bloqueio subaracnóideo, os anestesiologistas se preparam para possíveis crises convulsivas, e reversão para anestesia geral. A gestante ficou posicionada em decúbito lateral esquerdo, assepsia com álcool 70% e colocação de campo estéril. Seguido por infiltração de plano superficial com lidocaína 1% entre L4 e L5, onde foi feita punção mediana com agulha 25 gauge (Quincke), com saída de liquor claro. Foram administrados: Morfina 60 mg/IT e Bupivacaína Hiperbárica 12 mg/IT. Cesariana finalizada sem intercorrências, paciente se manteve estável hemodinamicamente, sem apresentar crises convulsivas. Discussão: Epilepsia é um desafio no manejo da paciente obstétrica devido aos riscos de resultados adversos para mãe e feto. Muito se questiona se a utilização do anestésico local no neuroeixo pode corroborar para iniciar uma possível crise epiléptica em pacientes com patologias associadas a mutação do canal de sódio, gerando dúvida na escolha da técnica anestésica. A anestesia subaracnóidea é considerada padrão ouro para cesariana, e não foram encontrados evidencias que a contraindiquem em pacientes com alteração no canal de sódio.

Referência 1


Maranhão, MVM; Gomes, EA; Carvalho, PED. Epilepsia e Anestesia, Rev. Bras. Anestesiol, mar.-abr. 2011, 61(2): 242-254,.

Referência 2

Machado, EG; Billé, IDRC; Araújo, MMPDN; et al. Bloqueio de neuroeixo como técnica anestésica em
paciente portador de encefalopatia SCN8A: relato de caso. Brazilian Journal of Anesthesiology 2022;72(6):826---828

Palavras Chave

Epilepsia; anestesia obstétrica; raquianestesia

Área

Anestesia Obstétrica

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET ALFREDO AUGUSTO VIEIRA PORTELLA - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

ANA ANGELICA DE ASSUNÇÃO PORTELA, ROXANNE CABRAL PINTO SANTOS, FERNANDA MARIA DA SILVA ALVES, GUSTAVO PÉRISSÉ MOREIRA VERAS, SERGIO LUIZ DO LOGAR MATTOS, BRUNO VITOR MARTINS SANTIAGO