Dados do Trabalho
Título
Inversão Uterina e Hemorragia Pós-Parto
Descrição
Introdução
A inversão uterina é uma complicação obstétrica rara e grave, ocorrendo durante o terceiro estágio do parto. Frequentemente associada à hemorragia pós-parto, uma das principais causas de mortalidade materna mundial, requer manejo imediato para prevenir consequências graves como choque, coagulação intravascular disseminada, lesão renal, síndrome de Sheehan, perda de fertilidade e morte.
Relato do Caso
Primigesta, 35 anos a termo, portadora de diabetes gestacional controlada com dieta e hipotireoidismo em uso de levotiroxina, admitida para parto vaginal. Inicialmente estável, com PA 110x80 mmHg, FC 78 bpm e SpO2 98%, dilatação cervical de 7cm e -1 de De lee. Para analgesia de parto foi realizado peridural lombar contínua com 10mg de bupivacaína 0,075% e 100mcg de fentanil. Durante o trabalho de parto de 9h30, foram necessárias doses adicionais de bupivacaína 0,075%. RN feminino, obteve APGAR 8/10. Na dequitação, paciente apresentou dor intensa seguida de hemorragia via vaginal com perda sanguínea estimada em 3,5l, evoluindo com rápida hipotensão (80x40mmHg), taquicardia e palidez cutânea, sendo diagnosticada com inversão uterina. Imediatamente medidas de ressuscitação foram iniciadas com 2.500ml de solução ringer lactato associado a metaraminol 0,5mg, além da coleta de exames laboratoriais. Houve tentativa de redução uterina inicialmente sem sucesso pelo obstetra, e após parada temporária da infusão de ocitocina, uma segunda tentativa foi realizada por meio de manobra bimanual. Seguiu-se com inserção de balão de Bakri, manutenção de ocitocina em infusão contínua, administração de metilergometrina 0,2mg IM e 800mg de misoprostol via retal, além de massagem uterina vigorosa. Após tais medidas houve controle do sangramento e tônus uterino adequado. A paciente foi encaminhada à UTI estável hemodinamicamente, PA 120x70mmHg, FC 144bpm e SpO2 98%. Após resultados de exames laboratoriais, a hemoglobina foi de 8,2 g/dL e o hematócrito de 23,5%. A paciente foi tratada com sulfato ferroso, ácido fólico e vitamina B12, sem necessidade de transfusão sanguínea devido à estabilidade hemodinâmica e ausência de sintomas.
Discussão
O atraso no diagnóstico da inversão uterina representa um risco significativo de complicações graves, incluindo morbimortalidade materna. A vigilância intensiva no período pós-parto imediato é essencial para o reconhecimento precoce da condição, dada a possibilidade de subestimação da perda sanguínea. Portanto, a prontidão para uma intervenção terapêutica imediata inclui, além da redução uterina, a reposição volêmica adequada, uso de vasopressores e uterotônicos. A terapia com uterotônicos ocorre apenas após a reversão da inversão uterina para evitar recorrência. Em casos de dificuldade para manobra de reversão, tocolíticos como sulfato de magnésio, terbutalina e salbutamol podem ser utilizados para relaxamento uterino e alguns autores advogam o uso de nitroglicerina 50-500mcg endovenoso para relaxamento do anel cervical.
Referência 1
American College of Obstetricians and Gynecologists. Committee on Practice Bulletins-Obstetrics. Practice Bulletin No. 183: Postpartum hemorrhage. Obstet Gynecol. 2017;130(4): e168-86.
Referência 2
Marshall NB, Catling S. Cardiac arrest due to uterine inversion during caesarean section. International journal of obstetric anesthesia, 2010; 19(2):231-234.
Palavras Chave
Inversão uterina; hemorragia pós parto
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
CET INTEGRADO DE CAMPINAS - São Paulo - Brasil
Autores
FERNANDA MORSELLI LO RÉ, MAURÍCIO MARSAIOLI SERAFIM, WILSON GONÇALVES SOMBRA, GUILHERME RUFINO DA SILVA, FERNANDO MARTINEZ SANCHEZ, LAÍS DA COSTA SILVA