Dados do Trabalho

Título

Manejo anestésico para exérese de linfonódo cervical em paciente com Síndrome de Miller-Fisher

Descrição

Introdução:
A síndrome de Miller-Fisher (SMF) é uma variante rara da síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma doença neurológica desmielinizante autoimune. A tríade clínica é composta por ataxia, areflexia e oftalmoplegia. Pode apresentar também voz analisada, disfagias e até esforço respiratório. O diagnóstico é feito pela clínica, uma dissociação proteica-citológica no líquido cefalorraquidiano (LCR), alterações na Eletroneuromiografia (ENMG), e pela dosagem dos anticorpos IgG anti- GQ1b. Trata-se de uma doença benigna e autolimitada, relacionada com infecções e neoplasias. Em casos graves, pode ser necessário tratamento com Imunoglobulina (IG) endovenosa ou plasmaférese.
Relato de caso:
Paciente A.J.R.D.P, feminino, 21 anos, foi internada com déficit neurológico progressivo descendente após infecção por Varicela. Ao exame, a paciente apresenta lesões cicatrizais na face, linfonodomegalia cervical, além de ataxia, redução da força nos braços, paresia de língua e abertura da boca reduzida. O LCR mostrou dissociação proteino-citológica, que firmou a suspeita de SGB. A ENMG resultou em abolição das respostas sensitivas e do reflexo de piscamento, caraterísticas da variante SMF. Foi iniciado tratamento com IG. Por suspeita de neoplasia, foi submetida a exérese linfonodal cervical, realizada sob anestesia geral. A indução foi feito com 2mg de midazolam (0.03mg/kg), 200mcg de Fentanil (3mcg/kg), 40mg de Lidocaina (0.6mg/kg), 140mg de Propofol (2.3mg/kg) e 20mg de Cetamina (0.3mg/kg) endovenoso, sem uso de bloqueador neuromuscular (BNM). Após ventilação com máscara, foi efetuado intubação orotraqueal sob visualização direta, sem intercorrências. A anestesia foi conduzida com Sevoflurano via inalatória. A paciente ficou estável hemodinâmicamente, bem acoplada á ventilação mecânica e, após o procedimento, extubada sem complicações. Na reavaliação, não apresentou piora neurológica ou alteração respiratória.
Discussão:
Por se tratar de uma doença neuromuscular, deve-se evitar BNM em pacientes com SMF. O uso da Succinilcolina gera risco de hipercalemia, já que os pacientes possuem aumento de receptores de acetilcolina, liberando potássio. Os BNM adespolarizantes apresentam risco de tempo de ação prolongada e piora dos sintomas neuromusculares. Como agente anestésico, o Sevoflurano ganha importância por gerar relaxamento muscular com baixa taxa de metabolização sistêmica. A variante SMF cursa com o desafio de preditores de intubação difícil, como paralisia de língua e abertura bucal reduzida.
Por disfunção do sistema nervoso autonômico, pode haver crises de hipertensão, taquicardia ou arritmias durante a cirurgia. Pelo risco de broncoaspiração, deve-se evitar pré-medicação sedativa.
Vale ressaltar que quando um paciente com SMF for submetido á intervenção cirúrgica sob anestesia, o caso deve ser discutido e analisado para que seja feita uma escolha individualizada de acordo com o quadro clínico e a cirurgia a ser realizada.

Referência 1

TONELLI, Deoclécio, SACCO, Paula, CALEGARI, Desiré, et.al. Anestesia em criança com síndrome Guillain-Barre após vacina com sarampo. Revista Brasileira de Anestesiologia (S.I.), 55 (6), Dez. 2005, Disponível em: https://www.scielo.br/j/rba/a/gQFSKgbWbVfytfjZ9p3yrnd/ Acesso em: 14 jul. 2024

Referência 2

DAMIANI, Daniel, LAUDANNA, Natalia, DAMIANI, Durval. Síndrome de Miller Fisher: considerações diagnósticas e diagnósticos diferenciais. Revista Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, 9 (6), 423-7, nov./dez. 2011. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2011/v9n6/a2554 Acesso em: 15 jul. 2024

Palavras Chave

Síndrome Miller-Fisher; bloqueador neuromuscular; doenças neuromusculares