Dados do Trabalho


Título

Anafilaxia perioperatória em paciente traumatizado: um relato de caso

Descrição

Introdução: A anafilaxia é uma síndrome multissistêmica aguda e potencialmente letal, que, na maioria dos casos, é resultado de uma repentina liberação de mediadores de mastócitos e basófilos no sangue. Ressalta-se que 60% das anafilaxias perioperatórias são IgE dependentes. Porém, em grande número, não são identificados os gatilhos da resposta, sendo os principais deflagradores: bloqueadores neuromusculares, clorexidina e corantes azuis. Devido ao potencial de letalidade, é necessário o reconhecimento precoce da anafilaxia, principalmente em pacientes sedados ou em situação de vulnerabilidade. Relato de caso: J.M., 19 anos, 68 kg, 170 cm, ASA IE, alergia à merthiolate. Submetido à lavagem mecânico-cirúrgica de múltiplas lesões em MIE, vítima de acidente motoxcarro. Admitido na SO e monitorizado adequadamente, com sinais vitais de entrada: PA 130/80mmHg, SpO2 98% em ar ambiente, FC 68bpm. Procedeu-se à oxigenação via CN 2L/min, sedação com 5 mg de midazolam, 50 mcg de fentanil e 25mg e realização de raquianestesia, além do início da infusão de sintomáticos (dexametasona 4mg, ondansetrona 4mg e dipirona 2g). Em poucos minutos, o paciente evolui com taquicardia sinusal importante, atingindo 170 bpm e hipotensão severa com PAM 35mmHg. Apresenta-se ainda sonolento e com SpO2 85%, apesar de O2 5L/min. Optada por IOT por laringoscopia direta, Cormarck-Lehane 2B, TOT 7,5 c/c; acoplada à VMI, ausculta com MVF+ bilateral, sibilos difusos, e capnografia com padrão obstrutivo. Realizados 10 puffs de salbutamol inalatório, com alguma melhora da capnografia, saturação e ausculta respiratória. Mantida hipotensão (PAM 42mmHg) e taquicardia (150bpm), apesar de resgate com drogas vasopressoras (efedrina, metaraminol e norepinefrina). Optado por punção de AVP 16G em MSE e, após retirada de campos cirúrgicos, nota-se discreto rash cutâneo. Realizada, imediatamente, epinefrina 250mcg, com melhora considerável da PAM 68mmHg e da FC 100bpm; no entanto, transitória. Mais 2 bolus de 50 mcg para manter estabilidade hemodinâmica, com sucesso. Paciente encaminhado à UTI, estável hemodinamicamente (PAM 65mmHg, FC: 95bpm, SpO2: 99%), mantido em ventilação mecânica invasiva. Após relato da complicação à acompanhante, esta informa evento de reação alérgica em procedimento odontológico após administração de anestésicos locais. Horas após, paciente extubado. Discussão: Quando primeiros sinais indicativos de anafilaxia, haviam sido administrados anestésicos venosos e sintomáticos. Não é possível definir a etiologia definitiva do caso, porém é considerável o histórico de alergia após administração de AL previamente. Reações alérgicas a anestésicos locais são incomuns e enquadradas em reações de hipersensibilidade do tipo I mediadas por IgE. Ademais, é necessário o reconhecimento precoce de possível anafilaxia em pacientes traumatizados, a considerar diagnósticos diferenciais.

Referência 1

SOLÉ, D. et al. Atualização sobre reações de hipersensibilidade perioperatória: documento conjunto da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) – Parte II: etiologia e diagnóstico. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 70, p. 642–661, 3 fev. 2021

Referência 2

Harper NJN, Cook TM, Garcez T, et al. Anaesthesia, surgery, and life-threatening allergic reactions: epidemiology and clinical features of perioperative anaphylaxis in the 6 th National Audit Project (NAP6). Br J Anaesth. 2018;121:159---71.

Palavras Chave

anafilaxia; Trauma; Anestésicos locais

Área

Tratamento de Trauma/Queimaduras

Fonte de financiamento

Instituição de Origem

Instituições

RESIDÊNCIA - HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS BRASILIA DF - Distrito Federal - Brasil

Autores

MYLENA VALADARES VALADARES SILVA, MARIA FERNANDA DE MIRANDA MARCELINO, LEONARDO SOUSA MUNDOCO, VITTOR BATISTA CAVALCANTI, MAYARA DE ALMEIDA STEFANO, GUILHERME ABREU GUERRA