Dados do Trabalho
Título
Manejo anestésico do paciente com histórico familiar de hipertermia maligna, relato de caso.
Descrição
INTRODUÇÃO: A Hipertermia Maligna (HM) é um distúrbio farmacocinético subclínico, de herança autossômica dominante, com penetrância incompleta e expressão variável. Caracteriza-se pela resposta metabólica exacerbada frente a determinados gatilhos, como anestésicos inalatórios e/ou a bloqueador neuromuscular despolarizante, sendo a maior incidência no sexo masculino. Observa-se que metade das pessoas que desencadearam HM já foram expostas uma ou duas vezes a agentes desencadeantes sem intercorrência clínica. A suscetibilidade à HM pode ser confirmada com testes genéticos e/ou teste de contratura ao halotano e cafeína, considerado padrão ouro. Clinicamente a crise inclui hipercapnia, rigidez muscular sustentada, rigidez do músculo masseter e hipertermia.
RELATO DE CASO: Feminino, 64 anos, 74 kg, 161 cm. História familiar de HM confirmada com teste de contratura ao halotano e cafeína em irmão e sobrinho. Admitida para colecistectomia videolaparoscópica eletiva. Passado cirúrgico de tonsilectomia sem intercorrências. No momento, há indisponibilidade de testes de suscetibilidade no Rio de Janeiro. Previamente à cirurgia foi realizada lavagem do circuito do aparelho de anestesia com fluxo de 10 mL/min durante 30 minutos e retirado vaporizador de sevoflurano. Indução com midazolam 2 mg, fentanil 200 mg, lidocaína 80 mg, propofol em bomba alvo-controlada e rocurônio 50 mg. Cirurgia com duração de 1h30min, mantido propofol em bomba alvo-controlada e remifentanil 20 mcg/mL em bomba de infusão contínua. Revertido bloqueio neuromuscular com sugamadex 200 mg. Dantrolene foi mantido em sala. A capnografia permaneceu entre 28 - 39 mmHg e temperatura entre 36,0º - 34,7ºC. Procedimento e extubação sem intercorrências.
DISCUSSÃO: O paciente com histórico familiar deve ser tratado como suscetível à HM . A anamnese na avaliação pré-anestésica deve ser detalhada, incluindo anestesias prévias, histórico de rabdomiólise, miopatia clínica e história familiar de HM. Deve-se optar por anestesia regional quando bem indicada. A anestesia geral sem gatilhos é realizada evitando principalmente anestésicos voláteis e succinilcolina. Antes de cirurgias eletivas, todo o circuito respiratório e a cal sodada devem ser substituídos por equipamentos não contaminados. Recomenda-se a lavagem da máquina anestésica com fluxo máximo de gás fresco de pelo menos 10 L/min durante o período determinado pelo fabricante. O reservatório de vaporizador de agentes inalatórios deve ser retirado de sala para evitar uso indevido acidentalmente. Não há indicação específica de medicação pré-anestésica para pacientes suscetíveis e o uso profilático de dantrolene além de não ser recomendado, está associado a desfechos indesejados.
Referência 1
Williams R, Sloan G. Malignant Hyperthermia. Anesthesia and Intensive Care Medicine. 2023 Mai 01; 24(5):303-306.
Referência 2
Rüffert H, Bastian B, Bendixen D, Girard T, Heienrich S, Hellblom A, et al. Consensus guidelines on perioperative management of malignant hyperthermia suspected or susceptible patients from the European Malignant Hyperthermia Group. British Journal of Anesthesia. 2020 Out 29; 126(1):120-130.
Palavras Chave
hipertermia maligna
Área
Doenças Neuromusculares e Medicamentos
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.HOSP.FEDERAL DE BONSUCESSO - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
CAROLINA BANTIM CISCOTTO, JULIANA DE OLIVEIRA FIGUEIRÓ, ANGELO JORGE QUEIROZ RANGEL MICUCI, AMÉRICO SALGUEIRO AUTRAN NETO, LAÍS MARTINS NOGUEIRA