Dados do Trabalho

Título

Planejamento anestésico para parto cesáreo em gestante com cardiopatia isquêmica, síndrome de Wolff-Parkinson-White e insuficiência cardíaca: Relato de caso

Descrição

Introdução: A anestesia em gestantes com cardiopatias exige avaliação pré-operatória abrangente para garantir uma abordagem anestésica segura e eficaz. As diretrizes da Classificação Modificada da Organização Mundial da Saúde para Doença Cardiovascular na Gravidez (mWHO) são fundamentais para orientar a prática anestésica nesse cenário. Este relato de caso apresenta uma paciente com três condições cardíacas: síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), doença arterial coronariana (DAC) e insuficiência cardíaca (IC), além do uso de marca-passo cardioversor desfibrilador implantável (MP-CDI). A presença simultânea destas condições representa um desafio para a condução anestésica durante um parto cesáreo, tornando este um caso raro e de alta complexidade. Relato de Caso: CO, 35 anos, gestante (37 semanas) com hipertensão arterial sistêmica, hiperlipidemia primária, DAC com angioplastia coronária há 2 anos e síndrome de WPW, em uso MP-CDI por taquicardia ventricular sustentada, foi encaminhada para parto cesáreo eletivo. Apresentava também IC de fração de ejeção reduzida (36%) em compensação clínica. No pré-operatório foi realizada análise do MP-CDI com reprogramação por empresa responsável. Dada a gravidade da cardiopatia, foi realizada discussão entre a equipe obstétrica, anestésica e cardiológica, sendo decidida anestesia peridural titulada com monitorização de pressão arterial invasiva (PAI). Inicialmente, administrou-se 20ml de lidocaína a 2% e 100mcg de fentanil epidural, com manutenção da estabilidade hemodinâmica, sem intercorrências. O procedimento durou cerca de 60 minutos e, ao final, administrou-se 5 ml de ropivacaína a 0,5% e 2 mg de morfina em cateter peridural. A paciente foi encaminhada para a unidade cardiointensiva (UCI) e, no pós-operatório imediato, foi feita reprogramação do MP-CDI. Após 48 horas, a paciente recebeu alta da UCI sem complicações hemodinâmicas. Discussão: A gestante do caso se enquadra na classe III da classificação mWHO, sendo, portanto, considerada de risco significativamente aumentado de mortalidade materna ou morbidade grave. De forma geral, nesse caso, as diretrizes recomendam rígido controle hemodinâmico, preferência por anestesia neuroaxial titulada, disponibilidade de vasopressores, inotrópicos e anti-hipertensivos, acesso periférico de grande calibre, monitorização de PAl e ecocardiografia transtorácica. No caso, a anestesia peridural foi vantajosa, pois ofereceu controle hemodinâmico superior em comparação à anestesia subaracnoidea, a qual pode causar simpatectomia súbita. Ainda, contribuiu para redução da pré-carga e pós-carga ventricular, diminuindo a demanda miocárdica de oxigênio. Nesse sentido, foi crucial manter a monitorização da PAI, pois facilitou ajustes contínuos na anestesia. Por fim, o caso ressalta a importância de uma equipe multidisciplinar para garantir uma abordagem segura e adequada, beneficiando gestantes com condições cardíacas complexas e promovendo desfechos positivos para mãe e bebê.

Referência 1

Meng ML, Arendt KW, Banayan JM, et al; American Heart Association Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia; Council on Cardiopulmonary, Critical Care, Perioperative and Resuscitation; and Council on Peripheral Vascular Disease. Anesthetic Care of the Pregnant Patient With Cardiovascular Disease: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2023 Mar 14;147(11):e657-e673.

Referência 2

Meng ML, Arendt KW. Obstetric Anesthesia and Heart Disease: Practical Clinical Considerations. Anesthesiology. 2021 Jul 1;135(1):164-183.

Palavras Chave

anestesia obstétrica; cardiopatia isquemica; taquiarritmia