Dados do Trabalho


Título

BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR TOTAL EM PACIENTE SUBMETIDA A CESAREANA: O QUE FAZER?

Descrição

Introdução: O Bloqueio Atrioventricular Total (BAVT) é uma condição em que a condução elétrica entre as câmaras atriais e ventriculares do coração está completamente bloqueada. Este cenário é particularmente crítico durante a gestação, devido à demanda aumentada do sistema cardiovascular podendo complicar a gravidez e o parto devido ao risco de bradicardia materna, síncope e insuficiência cardíaca, além de potencial comprometimento hemodinâmico, principalmente durante a cesariana, que é um desafio para o anestesiologista. Relato de caso: Paciente, 29 anos, hipertensa, diabética gestacional e portadora de BAVT congênito, com EGC de 12 derivações evidenciando 44bpm de FC basal, PA: 170x90mmHg admitida para cesárea eletiva. Avaliação cardiológica com risco cardiovascular grau 1. O preparo anestésico constitui em venóclise 16G em MSD e PAI em artéria radial esquerda, inserido marcapasso transcutâneo em região torácica mas em modo desligado e ser utilizado em caso de emergência, além de vasopressor (noradrenalina 6mcg/ml) e atropina (0,75mg) já preparados. A paciente em questão era responsiva a atropina, uma característica do BAVT congênito em comparação com o adquirido. Mesmo diante de uma bradicardia importante, não foi administrada devido a tendencia hipertensiva da paciente e risco de piora por aumento da FC (PA = DC x VS). Foi optado pela anestesia peridural contínua L3-L4 com inserção de cateter para titulação de dose até um nível sensitivo adequado, totalizando 50mg de Levobupivacaína 0,5% + 100mcg de fentanil e 1,0mg de morfina, evitando assim um bloqueio simpático e descompensação do BAVT, com manutenção de estabilidade hemodinâmica. Atingido nível sensitivo T4 e motor com Bromage 3, com latência de 15 minutos Durante toda a cesariana a paciente manteve estabilidade hemodinâmica sem necessidade de vasopressor e atropina. RN com Apgar 9/10 e paciente encaminhada para RPA onde ficou em observação até reversão do bloqueio.
Discussão:
O BAVT pode ser congênito ou adquirido. Os pacientes com BAVT congênito geralmente apresentam um ritmo de escape de um marcapasso juncional de cerca de 45-60 bpm, são geralmente assintomáticos, hemodinamicamente estáveis e apresentam uma resposta normal da frequência cardíaca ao exercício e à atropina. Esses pacientes normalmente não necessitam de inserção de marcapasso permanente e podem ser manejados de forma expectante durante o período periparto, porém, devemos evitar situações que interfiram nos mecanismo compensatórios, sendo portanto, a anestesia peridural uma excelente técnica devido a menor bloqueio simpático e possibilidade de titulação da dose por cateter. O Marcapasso transcutâneo deve está disponível para qualquer situação de instabilidade, principalmente nas paciente não respondedoras a atropina. O Anestesista deve diferenciar os pacientes que são portadoras de BAVT adquirido e congênito e está preparado para um manejo adequado para cada situação que apresentam preparo e prognósticos diferentes.

Referência 1

Azarisman S, Fahmi L, Huda AN, Azam Y. Emergent Caesarean section in parturient with congenital complete atrioventricular block. JRSM Short Rep. 2010 Nov 9;1(6):50. doi: 10.1258/shorts.2010.010033. PMID: 21234113; PMCID: PMC2994351.

Referência 2

Aratake S, Yasuda A, Sawamura S. Cesarean section under spinal anesthesia in acquired complete atrioventricular block without a pacemaker: A case report. Clin Case Rep. 2019 Jul 24;7(9):1663-1666. doi: 10.1002/ccr3.2312. PMID: 31534722; PMCID: PMC6745382.

Palavras Chave

bloqueio atrio ventricular; Cesárea

Área

Anestesia Obstétrica

Fonte de financiamento

Privado

Instituições

RESIDÊNCIA - MATERNIDADE DE CAMPINAS SP - São Paulo - Brasil

Autores

SUSI ARAUJO ALVES, LUIZ FERNANDO CARLIN MUTERLLE, WILSON GONÇALVES SOMBRA, CANDIDO AMARAL SANCHEZ, LUIS FERNANDO DE LIMA CASTRO, FABIANA DO VALE VIANA