Dados do Trabalho


Título

Abordagem anestésica em paciente com recidiva de VIPoma em omento e linfonodos abdominais: Relato de caso

Descrição

Introdução: O VIPoma é um raro tumor neuroendócrino, que geralmente acomete o pâncreas, caracterizado pela secreção excessiva de peptídeo vasoativo intestinal (VIP), resultando em manifestações clínicas como diarreia aquosa persistente, dor abdominal, fraqueza muscular, hipocalemia e acloridria. Frequentemente, o diagnóstico é tardio, com metástases presentes em muitos casos, o que complica o tratamento. O presente relato descreve a complexidade do manejo anestésico em uma paciente com diagnóstico prévio de VIPoma pancreático metastático.
Relato de caso: Paciente feminina, 44 anos, com histórico de VIPoma pancreático ressecado há 15 anos, e transplante hepático há 5 anos por metástases, em proposta de ressecção de nova massa em omento maior e em linfonodos retroperitoneais. Portadora de hipertensão arterial sistêmica, sem alergias. À admissão na sala cirúrgica, após sedação para ansiólise, realizada analgesia peridural a nível de T10-T11, com 20mL de ropivacaína 0,15%, 50mcg de fentanil e 2mg de morfina, seguida da inserção de cateter sem intercorrências. Indução venosa com Sufentanil 30mcg, Lidocaína 80mg, Cetamina 15mg, Propofol 160mg e Rocurônio 50mg, com manutenção por anestesia inalatória (Sevoflurano 2%). Instabilidade hemodinâmica decorrente da manipulação dos implantes foi manejada, preferencialmente, com Vasopressina em infusão contínua, associada à Noradrenalina. Sangramento cirúrgico manejado com reposição de cristaloides, sem necessidade de hemotransfusões. Ao fim do procedimento, paciente extubada em sala cirúrgica e encaminhada ao CTI com infusão contínua em cateter peridural de Ropivacaína 0,2% (4 mL/h), e hemodinamicamente dependente de noradrenalina e vasopressina em doses baixas, as quais foram suspensas em menos de 24 horas após o procedimento.
Discussão: VIPoma é um tumor neuroendócrino raro secretor de VIP, que geralmente acomete pacientes entre 30 e 50 anos. A partir da suspeita clínica, o diagnóstico é confirmado com dosagem dos níveis séricos de VIP, sendo que aproximadamente 60 a 80% dos pacientes já possuem metástases ao diagnóstico (linfonodais, hepáticas, renais ou ósseas). O tratamento cirúrgico envolve ressecção do tumor primário, além de ressecção hepática (podendo evoluir para necessidade de transplante) e de outros focos metastáticos. A manipulação dos focos no intraoperatório pode desencadear liberação intensa de VIP, causando vasodilatação sistêmica importante (semelhante a uma síndrome carcinoide). O manejo intraoperatório envolve, preferencialmente, o uso de Vasopressina (como utilizada no caso), por seu efeito mais pronunciado de vasoconstrição da circulação esplâncnica, e, caso necessário, análogos da somatostatina (octreotide). No intraoperatório, o rápido reconhecimento e manejo precoce das alterações hemodinâmicas decorrentes da liberação de substâncias vasoativas por tumores neuroendócrinos, como o VIPoma, são essenciais para uma evolução favorável e bom prognóstico no pós-operatório.

Referência 1

Emily Bergsland. VIPoma: Clinical manifestations, diagnosis, and management. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/vipoma-clinical-manifestations-diagnosis-and-management?search=vipoma%20&source=search_result&selectedTitle=1%7E38&usage_type=default&display_rank=1#H17 . Acessado em 20/07/2024.

Referência 2

Maciel RT, Fernandes FC, Pereira L dos S. Anestesia para paciente portadora de múltiplas afecções endócrinas: relato de caso. Rev Bras Anestesiol. 2008; 58(2): 172-178.

Palavras Chave

Vipoma; Anestesia; Procedimentos Cirúrgicos do Sistema Digestório

Área

Sistemas Gastrointestinais e Hepáticos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET S.A.HOSP.CLIN.FAC.MED.UFMG - Minas Gerais - Brasil

Autores

ANDRÉ LUÍS VIEIRA DRUMOND, LORENA MARCHADO MARQUES FARIA, ANDRÉ DOS SANTOS MENDONÇA, DAVID RIBEIRO DO NASCIMENTO, MILENA GAMA CAETANO, LUIS EDUARDO RIAS CARDOSO