Dados do Trabalho
Título
Relato de caso Anestesia para Cirurgia Fetal - Correção de mielomeningocele.
Descrição
Introdução: A mielomeningocele (MMC) decorre do fechamento incompleto do tubo neural e expõe a medula espinhal ao líquido amniótico. Afeta de 1 a 10 em cada 1.000 nascidos vivos no mundo e é a forma mais comum e grave de disrrafismo.1 As cirurgias intrauterinas visam corrigir defeitos congênitos que podem ameaçar a vida do concepto, como a MMC.2
Relato de caso: O consentimento para este relato foi concedido pelo CEP. Paciente de 26 anos, 58kg, 160cm, primigesta, 25 semanas e 6 dias, ASA II, sem comorbidades e antecedentes anestésicos, foi submetida à cirurgia fetal intrauterina para correção de mielomeningocele sacral. À admissão monitorização com cardioscópio, pressão não invasiva, oximetria e acelerometria. Puncionados dois acessos venosos periféricos (18G e 20G). Infundido 5mg de midazolam para ansiólise. Posicionada sentada, puncionado interespaço L1-L2 (Tuohy 16G). Localizado o espaço peridural por perda de resistência, foram injetados ropivacaína 0,2% (80mg), fentanil (100mcg) e morfina (1mg) diluídos para 15 mL. Inserido catéter peridural cefálico (12cm) para analgesia pós operatória. Em decúbito dorsal com deslocamento uterino à esquerda, induzida anestesia geral em sequência rápida com rocurônio (70mg), remifentanil em TCI, cetamina (25mg), midazolam (5mg) e propofol (120mg). Intubação orotraqueal atraumática. Ventilação controlada a volume (V:400ml/Pi:19cmH2O/FR:18irpm/PEEP5cmH2O). Adicionados capnografia, analisador de gases, termperatura central e pressão arterial invasiva (PAI). Manutenção anestésica com remifentanil e sevoflurano até 3CAM. Tocólise atingida com indometacina retal 50mg, sulfato magnésio (4g) e nitroglicerina (100mcg/min). Utilizada noradrenalina (0,1mcg/kg/min) para manter níveis pressóricos. Vitalidade fetal monitorizada com auxílio de ultrassom. Feto e mãe mantiveram estabilidade hemodinâmica durante todo o procedimento. Revertido o bloqueio neuromuscular com 200 mg sugamadex. Extubação feita em condições ótimas. Não houve intercorrências. A paciente foi encaminhada ao centro de terapia intensiva, lúcida, hemodinamicamente estável, eupnéica, sem queixas álgicas e com infusão de terbutalina 2mcg/kg/h.
Discussão: A MMC aumenta o risco de infecções, complicações neurologicas e hospitalizações. Dessa forma a cirurgia fetal apresenta, também, um benefício financeiro, além do clínico.1 O controle fino da pressão arterial, viabilizado pela PAI, é necessário para manter a hemodinâmica materna próxima ao basal, garantindo boa perfusão placentária e fetal, contrabalancear o plano anestésico profundo e o efeito hipotensor das drogas.2 Comunicação efetiva com a equipe cirúrgica durante todo o procedimento é imprescindível para o manejo dos anestésicos e o sucesso da cirurgia.2 A infusão de anestésicos intravenosos reduz a necessidade de agente volátil, o que minimiza a disfunção cardíaca fetal e a instabilidade hemodinâmica materna, ajuda a manter imobilidade fetal e o relaxamento uterino antes atingido com CAMs mais elevadas.2
Referência 1
Alruwaili AA, Das JM. Mielomeningocele. [Atualizado em 2023 Jun 26]. Em: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK546696/ Acessado em: 12/06/2024.
Referência 2
Chatterjee, D; Arendt, W; Moldenhauer, Julie S, et. al. Anesthesia for Maternal–Fetal Interventions: A Consensus Statement From the American Society of Anesthesiologists Committees on Obstetric and Pediatric Anesthesiology and the North American Fetal Therapy Network. Anesthesia & Analgesia 132(4):p 1164-1173, April 2021. | DOI: 10.1213/ANE.000000000000517.
Palavras Chave
Mielomeningocele; Terapias Fetais; Anestesia
Área
Anestesia Pediátrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET DO HOSPITAL VILA DA SERRA - Minas Gerais - Brasil
Autores
FERNANDA MOTA FRANCO, BERNARDO RAMOS PRATES, MARINA DE MELO BARCELOS SALES, BERNARDO BRAGA DUARTE, IAGO FERREIRA PINTO ALMEIDA, MARIANA GOMES RAJÃO SANTIAGO