Dados do Trabalho


Título

Anestesia para timectomia videolaparoscópica em paciente portadora de Miastenia Gravis sem uso de bloqueador neuromuscular: Relato de caso

Descrição

INTRODUÇÃO: A Miastenia Gravis (MG) é uma doença autoimune, caracterizada por fraqueza e fadiga muscular, que ocorre pela inativação ou destruição de Receptores nicotínicos pós-sinápticos de Acetilcolina (nAChR). Estatisticamente, 20 a 50% dos pacientes miastênicos desenvolvem timoma. A incidência é maior nos pacientes acima de 30 anos, que apresentam melhora da sintomatologia após a timectomia. Este relato demonstra uma estratégia anestésica em paciente portador de MG, submetido à anestesia geral balanceada sem o uso de bloqueador neuromuscular (BNM) para a realização de timectomia. RELATO DE CASO: Paciente do sexo feminino, 38 anos, 60 kg, 154cm, ASA II, em uso domiciliar de Prednisona, Piridostigmina, Azatioprina e Desogestrel. Portadora de MG, com hiperplasia de timo. Admitida em bloco cirúrgico assintomática, em uso de medicações habituais. Vigilância peroperatória com cardioscópio, oxímetro de pulso e medida de pressão arterial invasiva. Monitorização neuromuscular encontrava-se indisponível. A indução anestésica foi realizada com sevoflurano a 4% sob máscara facial, além de 180mg de Propofol e 400mcg de Remifentanil endovenosos (EV) em bolus. À laringoscopia direta, Cormack-Lehane I. Intubação orotraqueal realizada com tubo endotraqueal de Carlens 35 esquerdo, sem intercorrências. Mantida sob anestesia inalatória com sevoflurano a 1,5 CAM e ventilação monopulmonar a 5-6 ml/kg. Após término do procedimento cirúrgico foi administrado 6mg de morfina EV e realizado bloqueio de músculo Eretor da Espinha a nível de T4-T6 com 20ml de Ropivacaína a 0,3% como medidas adjuvantes para otimizar a recuperação pós-operatória (PO). Extubada em sala de cirurgia; evoluiu com alta hospitalar no 2° dia PO. DISCUSSÃO: A anestesia geral em pacientes portadores de MG é um cenário desafiador para o anestesiologista. O paciente miastênico a ser submetido à anestesia geral apresenta resposta alterada aos BNM, com bloqueios prolongados - se em uso de inibidores da acetilcolinesterase (AChE) -, resistência aos BNM despolarizantes e sensibilidade aumentada aos BNM adespolarizantes. A reversão do bloqueio neuromuscular nesses pacientes também é desafiadora: a Piridostigmina, base do tratamento farmacológico da MG, inibe a AChE, de forma que nesses pacientes essa reversão pode ser mal sucedida. A suspensão pré-operatória dessa medicação é controversa, já que pode acarretar efeitos colaterais e causar dependência psicológica entre os usuários. Se optado por interromper o uso, deve ser realizado na noite anterior ao procedimento. A utilização de sevoflurano durante a indução e manutenção operatórias parece ser uma alternativa factível para obtenção de condições suficientes de intubação e relaxamento muscular intraoperatório em cirurgias de timectomia em pacientes com MG. Dessa forma, estratégias que evitem o uso de BNM, como a descrita nesse relato de caso, conseguem proporcionar condições anestésicas e cirúrgicas adequadas e seguras para esse perfil de paciente.

Referência 1

Neto EPS, Módolo NSP. Miastenia Gravis: Implicações Anestésicas. Rev Bras Anestesiol. 1993; 43(6):373-382.

Referência 2

Fabris M, Orso D,Poldini F et al. Muscle relaxant effect induced by sevoflurane during thymectomy surgery in patients with myasthenia gravis: A systematic review. Journal of Clinical Anesthesia (JCA) Advances. 2024;1:1-8.

Palavras Chave

Miastenia gravis; Anestesia; Bloqueio neuromuscular

Área

Doenças Neuromusculares e Medicamentos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET DO HOSPITAL LUXEMBURGO - BH - Minas Gerais - Brasil

Autores

JONATHAS BLOHEM SOUZA, FLAVIA THAYNA RODRIGUES RIBEIRO, ANA FLÁVIA LIMA RUAS, RUI GUILHERME GOMES BRAGA, PAULA COSTA VIEIRA, JOAQUIM BELCHIOR SILVA