Dados do Trabalho
Título
ANESTESIA PARA PACIENTE PORTADORA DE DOENÇA DE CHARCOT-MARIE-TOOTH SUBMETIDA A CIRURGIA ORTOPÉDICA: RELATO DE CASO
Descrição
Introdução: A doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT) é uma neuropatia periférica hereditária caracterizada por atrofia muscular progressiva e distúrbios sensitivos e motores, sobretudo nas extremidades, ocasionando fraqueza muscular, alterações de sensibilidade e anormalidades na marcha. Trata-se da doença neuromuscular hereditária mais comum, com prevalência estimada de 1 a cada 2500 indivíduos. A escolha da técnica anestésica para esses pacientes é desafiadora, uma vez que há preocupação acerca da segurança do uso de bloqueadores neuromusculares e anestesia regional.
Relato de Caso: Trata-se de paciente de 25 anos, sexo feminino, 67 kg, 171 cm, admitida para cirurgia ortopédica para correção de pé caído a esquerda. Apresentava alteração no padrão da marcha desde a infância, arrastando o membro inferior esquerdo, e após investigação recebeu o diagnóstico de CMT do tipo 1X. Negava outras comorbidades ou alergias. Passado de adenoidectomia sob anestesia geral, sem intercorrências. A paciente apresentava atrofia da musculatura intrínseca das mãos, além de atrofia da musculatura distal das pernas, com marcha talonante a esquerda. A técnica anestésica escolhida foi raquianestesia e sedação. Foi realizada punção única mediana em L3-L4 com agulha 27G ponta de lápis e injetado 15mg de bupivacaína hiperbárica. O procedimento transcorreu sem intercorrências, com duração aproximada de 3h. A paciente recebeu alta da sala de recuperação pós anestésica cerca de 6h após o bloqueio, apresentando regressão do bloqueio em membros inferiores, e alta hospitalar no dia seguinte.
Discussão: Atualmente, não há consenso na literatura acerca do manejo anestésico de pacientes com CMT, e o anestesiologista deve avaliar o risco-benefício entre anestesia geral e técnicas regionais. Em relação à anestesia geral, deve ser levado em consideração o aumento do risco de bloqueio neuromuscular prolongado, hipercalemia e hipertermia maligna. O uso de anestesia regional em paciente com doença neurológica preexistente é controverso, uma vez que há preocupação sobre o risco de exacerbação da doença de base. No caso de pacientes com CMT, as informações sobre a segurança da anestesia regional são limitadas a relatos de caso e pequenas séries de caso, onde os pacientes não apresentaram exacerbação da sua condição neurológica. Em uma coorte histórica onde 53 pacientes com CMT foram submetidos a anestesia regional, incluindo bloqueios de neuroeixo e bloqueios de nervos periféricos, McClain et al. não encontraram evidências de complicações neurológicas. No presente relato, a paciente foi submetida a cirurgia ortopédica sob raquianestesia sem complicações. Os relatos de casos sugerem que técnicas regionais periféricas e centrais podem ser usadas sem piorar a condição neurológica estável do paciente. Na avaliação pré-anestésica, deve-se levar em consideração o grau de acometimento e a estabilidade da doença para avaliar os riscos e benefícios da anestesia regional nesses pacientes.
Referência 1
Orphan Anaesthesia. Anaesthesia recommendations for Charcot-Marie-Tooth disease. Disponível em: https://www.orphananesthesia.eu/en/rare-diseases/published-guidelines/charcot-marie-tooth-disease/1598-charcot-marie-tooth-disease-2/file.html. Acessado em 26/07/2024.
Referência 2
McClain RL, Rubin DI, Bais KS et al. Regional anesthesia in patients with Charcot–Marie–Tooth disease: a historical cohort study of 53 patients. Canadian Journal of Anesthesia/Journal canadien d'anesthésie. 2010; 69(7): 880-884.
Palavras Chave
NEUROPATIA; raquianestesia; anestesia regional
Área
Doenças Neuromusculares e Medicamentos
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET INTEGRADO HRAN-HRT-ISMEP - Distrito Federal - Brasil
Autores
JACKELINE LOHANE ARAUJO LUCCHESI, ANA PAULA ROCHA CRONEMBERGER, JULIANA MARIA DOS SANTOS CARDOSO, JAISA LEITE ALMEIDA