Dados do Trabalho


Título

Anestesia para tratamento extraútero intraparto (EXIT) em síndrome de obstrução congênita das vias aéreas superiores (CHAOS): um relato de caso

Descrição


Introdução

A síndrome de obstrução congênita das vias aéreas superiores (CHAOS) é caracterizada por malformação fetal com obstrução total ou parcial das vias aéreas superiores. É uma síndrome rara, de incidência desconhecida e geralmente letal. O tratamento extraútero intraparto (EXIT) é realizado durante cesariana para manter preservada a circulação fetoplacentária, enquanto a via aérea fetal é assegurada. Assim, previne-se hipóxia fetal e suas complicações.

Relato de caso

Gestante, 22 anos, hígida, ASA II, com idade gestacional de 27 semanas e diagnóstico fetal de CHAOS, com agenesia traqueal proximal, sem fístulas traqueoesofágicas e sem outras malformações. Indicada cesariana eletiva com procedimento EXIT sob anestesia geral (AG). Após posicionamento, monitorização, obtenção de acesso venoso e oferta de oxigênio, a indução em sequência rápida da AG balanceada foi realizada com fentanil 4 mcg/kg, lidocaína 1 mg/kg, propofol 2 mg/kg e rocurônio 1,2 mg/kg. A manutenção foi realizada com sevoflurano a 2-3%. A histerotomia ocorreu após 5 minutos. O polo cefálico, tronco e membros superiores fetais foram exteriorizados, com preservação da circulação fetoplacentária, sem necessidade de tocolíticos adicionais ou uso de vasopressores. O recém-nascido foi submetido a cervicotomia e traqueostomia, sem intercorrências, sendo encaminhado à UTI neonatal, após 23 minutos do início da anestesia, sem necessidade de outros agentes anestésicos. Após clampeamento do cordão umbilical, foi realizada infusão de ocitocina 15UI EV e transição para AG venosa total, com uso de propofol 2,5 microg/mL (modelo de White) e remifentanil 3 ng/mL (modelo de Minto), em infusão alvo controlada - plasma, com uso de índice biespectral (BIS). Foi realizada reversão do bloqueio neuromuscular com o uso de sugamadex 4 mg/kg. O volume total de cristalóides infundidos foi de 1,6L. O sangramento materno foi de cerca 1,0L, não houve uso de hemoderivados. Não ocorreram intercorrências durante o procedimento.

Discussão

Malformações fetais da via aérea são de grande complexidade e o sucesso do procedimento EXIT exige planejamento adequado. O relaxamento uterino durante o procedimento, para preservar a circulação fetoplacentária, mostrou-se adequado com AG balanceada, com a combinação de sevoflurano e opióide, sem uso de outros uterolíticos. A transição para AG venosa total com uso de ocitocina após clampeamento do cordão umbilical possivelmente minimizou o risco de hemorragia pós-parto e suas complicações. Diferentemente da cesariana habitual, a cirurgia fetal demanda anestesia e imobilidade para o feto, por transferência placentária ou infusão venosa complementar de anestésicos.

Conclusão

A transição da AG balanceada para venosa total mostrou-se efetiva durante o procedimento EXIT. Destaca-se a importância do conhecimento sobre fármacos e suas ações uterinas, além do planejamento entre equipes de obstetrícia, neonatologia e cirurgia pediátrica, para garantir desfechos maternofetais favoráveis.

Referência 1

Subramanian R, Mishra P, Subramaniam R et al. Role of anesthesiologist in ex utero intrapartum treatment procedure: A case and review of anesthetic management. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2018; 34:148-154.

Referência 2

Stevens GH, Schoot BC, Smets MJ et al. The ex utero intrapartum treatment (EXIT) procedure in fetal neck masses: a case report and review of the literature. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2002;100:246-250.

Palavras Chave

tratamento extraútero intraparto (EXIT); síndrome de obstrução congênita das vias aéreas superiores (CHAOS)

Área

Anestesia Obstétrica

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET HMCP.PONT.UNIV.CATÓLICA DE CAMPINAS - São Paulo - Brasil

Autores

VINICIUS DE MIRANDA MARTINHO, JOSE EDUARDO BAGNARA OROSZ, CAROLINE IRENE DE CARVALHO ZOLD, JOSE VICTOR ROVERONI ZUNTINI, MIGUEL SALOMÃO, HEITOR CUNHA LIMA