Dados do Trabalho


Título

Cardioversão externa em paciente com necessidade de marca-passo definitivo após valvoplastia aórtica e mitral – relato de caso.

Descrição

Introdução: A correção cirúrgica de distúrbios valvares impõe risco de desfechos arritmogênicos, de forma que 2 a 3% dos pacientes requerem implantação de marca-passo (MP). A valva mitral (VM) tem correlação anatômica íntima com o sistema de condução atrioventricular, desse modo, a manipulação cirúrgica é fator de risco importante para o desenvolvimento de arritmias perioperatórias.
Relato de caso: D.M.S., 60 anos, sexo feminino, internada inicialmente por insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e estenose aórtica e mitral acentuadas. Paciente recebida em pós-operatório (PO) de valvoplastia aórtica e mitral com necessidade de passagem de MP epicárdico por bloqueio atrioventricular (BAV) total. Em programação de MP definitivo, foi admitida em sala, monitorizada com oximetria, cardioscopia e pressão arterial invasiva, sedada com doses tituladas de sufentanil e midazolam (total de 6 mcg e 3mg, respectivamente). Ao final, apresentou Flutter Atrial persistente, sem resposta à tentativa de estimulação atrial rápida pelo MP, mantendo estabilidade hemodinâmica. Optado por realizar cardioversão externa (CVE) com oxigênio sob máscara facial, sendo aprofundado plano anestésico com doses tituladas de Propofol (50 mg ao total), posicionadas pás e administrado corrente elétrica de 100 Joules, assumindo então ritmo de MP. Ao final, após administração de flumazenil, paciente despertou sem queixas e foi encaminhada à UTI mantendo estabilidade hemodinâmica.
Discussão: A associação entre cirurgia de VM e BAV é tema de debate, assim como o mecanismo envolvido, que parece estar associado ao acometimento da artéria do nó sinusal e vias anteriores internodais. A necessidade de uso de MP definitivo nesses casos pode chegar a 20%. A literatura demonstra ainda que o número de pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis tem aumentado e, por sua vez, a ocorrência de flutter atrial e fibrilação atrial acompanham essa crescente. O método terapêutico de escolha no flutter atrial é dependente do quadro clínico e, em muitos casos, as drogas antiarrítmicas têm pouco sucesso. Assim, algumas opções existentes em pacientes em uso de MP incluem a estimulação atrial rápida e a CVE. No caso, a paciente encontrava-se em condições favoráveis a esta terapêutica, pois estava monitorizada e sedada. A escolha da droga e sua titulação a partir do plano anestésico é ponto importante, já que pode haver hipotensão, apneia ou memória explícita de eventos intraoperatórios. Em revisão da Cochrane, 90% dos serviços optaram por propofol e 43% associaram um opioide para a CVE. Após o procedimento, a reavaliação do MP deve ser realizada, pois a corrente elétrica pode alterar a programação. Visto isso, compreender esta relação entre patologia, procedimento cirúrgico e complicações envolvidas, bem como as possibilidades terapêuticas, torna-se ainda mais relevante para um bom desfecho clínico quando se trata de pacientes candidatos a procedimentos cardíacos.

Referência 1

Lewis SR, Nicholson A, Reed SS, Kenth JJ, Alderson P, Smith AF. - Anaesthetic and sedative agents used for electrical cardioversion. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 3, páginas 3-13. Art. No.: CD010824

Referência 2

Metin, et al. - Permanent Pacemaker Implantation Following Cardiac Surgery: Indications and Long-Term Follow-up; Pacing and Clinical Electrophysiology, Volume 32, Issue 1 p. 7-12

Palavras Chave

Arritmias cardíacas; Flutter atrial; Marca-passo cardíaco artificial

Área

Anestesia Cardiovascular e Torácica

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

RESIDÊNCIA - HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL - Distrito Federal - Brasil

Autores

MARIA LUIZA MARTINS QUARTEL, FABRÍCIO TAVARES MENDONÇA, ANA KAROLINA DOS REIS DA SILVA, KAROLYNNE MYRELLY OLIVEIRA BEZERRA DE F. SABOIA, GUSTAVO HENRIQUE DOS SANTOS DIAS, AMANDA CRISTINA DE SOUZA