Dados do Trabalho


Título

Cefaleia pós-raquianestesia persistente após múltiplos tampões sanguíneos: relato de caso

Descrição

INTRODUÇÃO: Cefaleia pós-punção dural é uma complicação amplamente conhecida dos bloqueios de neuroeixo. Sua fisiopatologia está relacionada à diminuição da pressão liquórica, principalmente na posição ortostática, pelo desbalanço entre a produção e a perda de líquor, assim como à tração de nervos cranianos e a vasodilatação dos vasos meníngeos. A incidência é baixa, com variações de acordo com a população estudada e, na maioria dos casos, tem resolução espontânea entre 7 e 14 dias. Entretanto, de acordo com a gravidade e persistência, e pelo seu potencial limitante, por vezes são necessárias intervenções invasivas, como o tampão sanguíneo epidural. RELATO DE CASO: Paciente masculino, 45 anos, ASA I, submetido a cirurgia de videoartroscopia de joelho sob anestesia raquidiana: paciente sentado, punção única, linha mediana, nível de L3-L4, com agulha Quincke 27G; após adequado retorno liquórico, injetado 20 mg de bupivacaína 0,5% pesada. O procedimento durou 50 minutos, sem intercorrências e a alta hospitalar ocorreu no mesmo dia. Após 24 horas, paciente evoluiu com cefaleia ortostática fronto-temporal (intensidade 10/10), associada a náuseas, vômitos e vertigem, com melhora em decúbito horizontal (intensidade 4/10), além de ausência de febre e sintomas meníngeos. Foi iniciado tratamento com cafeína 300 mg/dia, dipirona 2g de 6/6h e hidratação via oral vigorosa. Após 2 dias, sem melhora clínica, foi realizado o primeiro tampão sanguíneo: punção peridural, única, com agulha Tuohy 18G, nível de L3-L4 e injeção de 10 ml de sangue autólogo. Após o procedimento, paciente relatou apenas melhora discreta na intensidade da dor (8/10 ortostática, 2/10 decúbito horizontal). O segundo tampão sanguíneo epidural ocorreu 5 dias depois, com infusão de maior volume de sangue (15 ml). Paciente evoluiu com melhora importante na intensidade da dor, porém manteve cefaleia com as mesmas características iniciais, afetando suas atividades diárias. Procurou neurologista, o qual descartou alterações anatômicas através de ressonância magnética nuclear e manteve o diagnóstico de cefaleia pós-punção dural. O terceiro tampão sanguíneo foi realizado 37 dias após o início do quadro, com incremento no volume sanguíneo injetado no espaço epidural (30 ml). Ao fim do procedimento, paciente apresentou remissão completa dos sintomas. DISCUSSÃO: o tampão sanguíneo epidural é considerado o tratamento padrão ouro para essa afecção e possui grande taxa de sucesso, principalmente quando considerados casos em que foi realizado um segundo tampão. A literatura aponta uma taxa de falha de 7 a 29% em uma primeira intervenção, atingindo até 98% de remissão dos sintomas com duas intervenções, sendo extremamente rara a necessidade de uma terceira. Por tratar-se de uma complicação com maior incidência na população obstétrica, devido a associação de fatores de risco, a maioria dos dados disponíveis na literatura se relaciona a esse grupo, tornando este caso clínico singular como um todo.

Referência 1

Bishop R, Chen A, Yates WD et al. Update and Advances on Post-dural Puncture Headache. Adv Anesth. 2023; 41(1):71-85.

Referência 2

Tomala S, Savoldelli GL, Pichon I et al. Risk factors for recurrence of post-dural puncture headache following an epidural blood patch: a retrospective cohort study. Int J Obstet Anesth. 2023; 56:103925.

Palavras Chave

CEFALEIA PÓS-RAQUIANESTESIA; TAMPÃO SANGUÍNEO

Área

Anestesia Regional

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

RESIDÊNCIA - IRMANDADE DA SANTA CASA DE LONDRINA - Paraná - Brasil

Autores

BRUNA BOLANI, ANDRE KUHN PLETSCH, EMANUELLA SATO DE MEDEIROS, GUSTAVO HIRANO, IVAN CONCOLATTO, MARCELO SERIKAWA DE MEDEIROS