Dados do Trabalho


Título

Relação entre conteúdo gástrico residual e uso perioperatório de Semaglutida avaliado através de ultrassonografia: um estudo observacional prospectivo

Descrição

Justificativa e objetivos: A semaglutida é um agonista do receptor Glucagon like peptide-1 (GLP-1) de longa duração, conhecido por retardar o esvaziamento gástrico, causar saciedade e emagrecimento. Como se trata de uma droga relativamente recente, o perfil de segurança perioperatória da semaglutida permanece incerto, particularmente quanto a seu tempo de suspensão pré-operatória adequada. Há dúvidas principalmente quanto ao risco associado de aumento do conteúdo gástrico residual e consequente broncoaspiração durante a indução anestésica. A hipótese desse estudo foi que a interrupção da semaglutida por dez dias ou menos antes de procedimentos cirúrgicos eletivos é insuficiente para eliminar o risco de conteúdo gástrico residual (CGR), apesar do intervalo de jejum dentro do preconizado, em comparação com uma coorte de não usuários de semaglutida.
Método: Estudo de coorte prospectiva, composto de 220 pacientes divididos entre os usuários de semaglutida subcutânea pré-operatória dentro de 10 ou menos dias do procedimento (Grupo Semaglutida, N = 107) ou não exposição à semaglutida (Grupo não Semaglutida, N=113) [Tabela 1] . No dia do procedimento cirúrgico, todos os pacientes foram submetidos a ultrassonografia gástrica à beira-leito (USG) para avaliar o conteúdo gástrico residual. Os profissionais eram treinados na técnica e cegos quanto ao grupo correspondente. Demais dados epidemiológicos também foram coletados: idade, sexo, IMC, ASA, diabetes mellitus (sim/não) e tempo desde a última dose de semaglutida. Nosso desfecho primário foi a presença de CGR, definido como qualquer conteúdo sólido ou mais de 1,5 ml/kg de líquidos claros, conforme avaliação do USG. A incidência de broncoaspiração perioperatória (desfecho secundário) também foi registrada.
Resultado: Um aumento do CGR, foi observado em 46 (20,91%) pacientes, sendo 43 (40,19%) no grupo semaglutida e três (2,65%) no grupo não-semaglutida (p < 0,001) [Tabela 2]. Na análise ponderada por propensão, o uso de semaglutida [razão de chances (OR) = 36,97 (95% intervalo de confiança (IC) 16,54–99,32)], a idade [OR = 0,95 (95% IC 0,93–0,98)] e o sexo (OR = 2,28 [95% IC 1,29–4,06]) permaneceram significativamente associados ao aumento do CGR. Ambos os intervalos de tempo de interrupção pré-operatória (1-7 e 8-10 dias) foram igualmente associados ao aumento do CGR (p = 0,81). Nenhum caso de broncoaspiração foi observado.
Conclusão: O uso de semaglutida no período de dez ou menos dias antes de procedimentos cirúrgicos eletivos foi independentemente associado ao aumento de CGR na avaliação pré-operatória por USG. Além disso, a USG se mostrou efetiva em discriminar entre os pacientes usuários de semaglutida, aqueles que estavam sob risco de broncoaspiração, dessa forma evitando cancelamentos desnecessários de procedimentos eletivos.

Referência 1

Silveira SQ, da Silva LM, de Campos Vieira Abib A et al. Relationship between perioperative semaglutide use and residual gastric content: A retrospective analysis of patients undergoing elective upper endoscopy. J Clin Anesth 2023; 87: 111091. https://doi.org/10.1016/j.jclinane.2023.111091.

Referência 2

Van de Putte P, Perlas A. Ultrasound assessment of gastric content and volume. Br J Anaesth 2014; 113: 12–22. https://doi.org/10.1093/bja/aeu151.

Palavras Chave

POCUS (Point-of-Care Ultrasonography); Semaglutida; Medicina Perioperatória

Área

Medicina Perioperatória

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET HOSPITAL SÃO LUIZ JABAQUARA - CMA - São Paulo - Brasil

Autores

MARCO AURÉLIO CARVALHO, RAFAEL SOUZA FAVA NERSESSIAN, SAULLO QUEIROZ SILVEIRA, LEOPOLDO MUNIZ DA SILVA, FERNANDO NARDY BELLICIERI, ARTHUR LOPES FARIAS