Dados do Trabalho
Título
Anestesia para correção de fratura subtrocantérica em criança com osteogênese imperfeita do tipo 1: relato de caso
Descrição
Introdução. A osteogênese imperfeita (OI) é uma condição genética rara do tecido conjuntivo, caracterizada pela presença de displasia, deformidade e fragilidade ósseas. Acomete um indivíduo a cada 10.000-20.000 nascimentos. Na maior parte das vezes, a OI é causada por mutações em genes que codificam o colágeno do tipo I, importante constituinte da matriz extracelular dos ossos. Frequentemente, pacientes pediátricos com OI necessitam de abordagem cirúrgica ortopédica sob anestesia geral, tornando o manejo perioperatório desafiador. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de uma criança com OI submetida a correção de fratura transtrocantérica.
Relato de caso. Feminino, 6 anos e 10 meses, 17kg, portadora de OI do tipo I, em contexto de cirurgia de correção de fratura transtrocantérica D após queda da própria altura, sem outras comorbidades. Submetida a múltiplos procedimentos ortopédicos prévios, sem intercorrências anestésico-cirúrgicas. Ausência de preditores de via aérea difícil, apesar de apresentar grau moderado de cifoescoliose torácica. Iniciada monitorização básica com oxímetro de pulso, pressão arterial não invasiva (PNI) e cardioscopia. Indução inalatória para obtenção de acesso venoso periférico. Realizada indução venosa com fentanil, propofol, cetamina e rocurônio, seguido por intubação orotraqueal sob laringoscopia direta cuidadosa, com mínima extensão cervical. Após intubação, realizado bloqueio de nervo femoral guiado por ultrassom com ropivacaína a 0,35%, para analgesia pós-operatória. Manutenção com sevoflurano e reposição volêmica com solução cristaloide a uma taxa de 4ml/kg/h. Sangramento intraoperatório habitual, sem necessidade de drogas vasoativas e de reposição de hemocomponentes. Administrado dipirona e ondansetrona. Extubação orotraqueal realizada em plano anestésico, sem intercorrências.
Discussão. O manejo anestésico de pacientes portadores de OI se configura como um desafio. Algumas considerações precisam ser feitas: abordagem da via aérea, risco de fraturas perioperatórias, distúrbio da coagulação e estado de hipermetabolismo que simula quadro de hipertermia maligna. A abordagem da via aérea desses pacientes pode ser difícil pela presença de preditores como dimorfismo facial, instabilidade cervical e alterações acentuadas de curvatura da coluna torácica. A decisão pelo uso de PNI como monitorização é polêmica, levando-se em consideração um relato de caso prévio de fratura umeral iatrogênica durante a insuflação do manguito, fato que pode fazer o anestesista se abster dessa monitorização em detrimento de medida invasiva da pressão arterial. A coagulopatia, principalmente relacionada ao defeito da interação endotélio-plaqueta, pode limitar a realização de técnicas para analgesia pós-operatória, como bloqueio de neuroeixo, além de poder contribuir para o aumento do sangramento perioperatório. Portanto, um planejamento anestésico criterioso é essencial para a assistência adequada de portadores de OI.
Referência 1
Rothschild L, Goeller JK, Voronov P et al. Anesthesia in children with osteogenesis imperfecta: Retrospective chart review of 83 patients and 205 anesthetics over 7 years. Pediatric Anesthesia. 2018; 28(11):1050-58.
Referência 2
Beethe AR, Bohannon NA, Ogun OA et al. Neuraxial and regional anesthesia in surgical patients with osteogenesis imperfecta: a narrative review of literature. Regional Anesthesia Pain Medicine. 2020; 45(12):993-99.
Palavras Chave
Osteogênese Imperfeita; Anestesia pediátrica
Área
Anestesia Pediátrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.HOSP.CLIN.FAC.MED.UFMG - Minas Gerais - Brasil
Autores
MARCIO ERLEI VIEIRA DE SA FILHO, DAVID RIBEIRO DO NASCIMENTO, CAMILA GOMES DALL'AQUA, LAIS MENDES VIANA, IZABELA SILVA COELHO, MARCELLO DE ALBUQUERQUE FRANÇA