Dados do Trabalho
Título
Inflamação, instabilidade elétrica e disfunção ventricular direita em anestesia para pericardiectomia. Relato de caso.
Descrição
Introdução: A pericardite constritiva (PC) é definida pela perda da elasticidade por espessamento e calcificação do pericárdio. Possui etiologias variáveis que incluem tuberculose, doença reumática, infecção, trauma, hemorragia pós-operatória, tumores, radioterapia e forma idiopática. O padrão de limitação causado pela gravidade da resposta inflamatória torna a cirurgia cardíaca desafiadora. A pericardiectomia é o procedimento de escolha para alívio dos sintomas conforme avaliação do risco e benefício. O uso da circulação extracorpórea (CEC) na intervenção torna-se opção do cirurgião diante da dificuldade imposta pela fibrose pericárdica.
Relato de caso: Paciente masculino, 53 anos, 79 kg, com internações prévias por síndrome edemigênica, plaquetopenia e dispneia sem etiologia definida. Exames confirmaram PC com indicação cirúrgica. Após monitorização com cardioscópio em DII e V5, SpO2 e pressão arterial invasiva radial esquerda foi iniciada pré oxigenação e indução anestésica, com injeção via jelco 16 em MSD de 20 µg de sufentanil, 18 mg de etomidato, 80 mg de lidocaína e 80 mg de rocurônio, sendo intubado sem intercorrências. Puncionado acesso profundo em VJID guiado por USG. A manutenção anestésica ocorreu com sevoflurano e dexmedetomidina 0,2-0,3 µg/kg/h. Monitorizado com Ecotransesofágico (ETE) no intraoperatório. Na reposição foram utilizados 2000mL de solução cristaloide, transfusão de concentrado de hemácias pela CEC, 8U de plaquetas e complexo protrombínico (2000 UI), incluindo 500 mL do Cell Saver com BH final positivo de 1049 mL. Após 155 minutos de CEC, houve lesão de ramo marginal direito e paciente evoluiu com PCR em ritmo Torsades de Pointes seguido de FV monomórfica revertida com desfibrilação e lidocaína 1,5 mg/kg, sulfato de magnésio 2 g, amiodarona 300 mg e adrenalina 1 mg, com retorno à CEC por instabilidade hemodinâmica mantida. ETE final com disfunção grave do VD. Após seis horas e 50 minutos de cirurgia, foi levado à UCO em ventilação mecânica com infusões de lidocaína 1,5 mg/kg/h, adrenalina 0,1 µg/kg/min, noradrenalina 0,2 µg/kg/min e milrinona 0,6 µg/kg/min.
Discussão: A pericardiectomia é a terapia padrão-ouro para PC e o manejo anestésico é crucial para um bom desfecho. Fatores como fisiopatologia, comorbidades, classificação do NYHA, atrofia miocárdica e estase hepática estão associados a pior prognóstico. Manutenção de pré-carga, contratilidade e frequência em torno de 100 bpm são importantes para garantir o débito cardíaco. As taquiarritmias com alta resposta ventricular podem ser pouco toleradas. O ETE traz informações sobre enchimento e função ventriculares, guiando reposição volêmica e prevenindo síndrome de baixo débito e mortalidade.
Referência 1
Shi C, Dong C, Yao L, et al. Anesthesia management for pericardiectomy- a case series study. BMC Anesthesiol. 2023; 23, 191
Referência 2
Rupprecht L, Putz C, Florchinger B, et al. Pericardiectomy for Constrictive Pericarditis: An Institution’s 21 Years Experience. Thorac Cardiovasc Surg. 2018; 66(8):645-650
Palavras Chave
Pericardiectomia; Arritmia; Anestesia
Área
Anestesia Cardiovascular e Torácica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET PROF. SILVIO RAMOS LINS - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
VICTOR HENRIQUE BERNARDES, LUANE HOTZ VASCONCELLOS, ANA CLARA FONTELLA LINDENBLATT KATOPODIS, LUCIANO RINALDI REGADO, MARCO ANTONIO CARDOSO RESENDE, MARIANA SANTOS MATTOS TAVARES