Dados do Trabalho
Título
Reação de hipersensibilidade a hialuronidase após bloqueio peribulbar: um relato de caso.
Descrição
Introdução: A hialuronidase é uma enzima hidrolítica que facilita a degradação do ácido hialurônico, componente da matriz extracelular dos tecidos. Quando adicionada a anestésicos locais em procedimentos oftalmológicos, melhora a infiltração e a dispersão do anestésico. Isso reduz a latência, o volume necessário e evita o aumento da pressão intraocular (PIO). Apesar do seu potencial alergênico e seu uso amplamente difundido, há poucos relatos de reações alérgica a essa enzima. Relato de caso: Trata-se de uma paciente do sexo feminino, 77 anos, hipertensa, que realizou facectomia e implante de lente intraocular sob bloqueio peribulbar para correção de catarata no olho esquerdo (OE). Três dias após o procedimento, complicou com hérnia de íris, sendo necessária vitrectomia anterior de urgência. Paciente negou alergias e efeitos adversos anestésicos em cirurgias prévias. Como proposta anestésica, foi realizada sedoanalgesia com Diazepam 8 mg e Fentanil 40 mcg, além de bloqueio peribulbar com dupla punção, utilizando 7 ml de levobupivacaína 0,75%, e 20UI/mL de hialuronidase, dose total 140 UI. O procedimento cirúrgico foi realizado sem intercorrências. Na enfermaria, cerca de 1 hora após, a paciente apresentou proptose, quemose, eritema periorbital e edema de córnea 3+/4+ em OE. Descartadas complicações relacionadas ao procedimento cirúrgico, levantou-se como principal hipótese diagnóstica reação de hipersensibilidade a um dos componentes da solução anestésica. Isso considerando o tempo de reação, a ausência de sintomas sistêmicos e fatores de risco para infecção pós-operatória. Iniciou-se tratamento com hidrocortisona intravenosa e prometazina intramuscular, com resposta significativa ao longo de 24 horas. A investigação durante a internação revelou teste alérgico intradérmico positivo para hialoenzima. No segundo dia teve alta com corticoterapia por via oral de manutenção. Em 72 horas, evoluiu com resolução completa da sintomatologia, sem sequelas funcionais. Discussão: O diagnóstico correto da reação de hipersensibilidade à hialuronidase é de extrema importância. Embora relativamente rara, pode levar a perda da visão em até 24 horas, pelo dano irreversível ao nervo óptico, relacionado a síndrome compartimental secundária ao aumento da PIO. Por isso, recomenda-se a rotina de realização de testes alérgicos aos componentes do bloqueio peribulbar. Os diagnósticos diferenciais incluem hemorragia retrobulbar e celulite orbital infecciosa. Fatores que podem auxiliar na diferenciação é o histórico de exposição prévia à hialuronidase, ausência de sinais sistêmicos e de alterações de parâmetros infecciosos laboratoriais. A conduta nesses casos inclui a exclusão precoce de causa infecciosa, tratamento com corticoide sistêmico e controle da PIO. Além disso, a hialuronidase é contraindicada em procedimentos oculares futuros, a tendência é a adoção de técnicas tópicas e sub-tenoniana, que não requerem a adição de hialuronidase como adjuvante.
Referência 1
Leibovitch, Igal; Tamblyn, David; Casson, Robert; et al. Allergic reaction to hyaluronidase: a rare cause of orbital inflammation after cataract surgery. Graefe's Arch Clin Exp Ophthalmol, v. 244, p. 944-949, 2006. DOI 10.1007/s00417-005-0190-5
Referência 2
Gupta A, Moharana B, Saini R, et al. BMJ Case Rep 2022;15:e247208. doi:10.1136/bcr-2021- 247208
Palavras Chave
Hipersensibilidade; hialuronidase; peribulbar
Área
Anestesia de cabeça, pescoço, otorrinolaringológica e oftalmológica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.HOSP.POLÍCIA MILITAR - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
ANA LUIZA NOBRE GUIMARÃES, ANA MARIA AUGUSTO DE SOUZA, PATRICK AUGUSTO GAMA LIMA DE OLIVEIRA, JOSE KAYQUE NEVES, FERNANDA CARVALHO MACIEL, FERNANDO DE CARVALHO CORREA