Dados do Trabalho


Título

Via Aérea Difícil por Volumoso Tumor Tireoidiano em Paciente com Distúrbio Psiquiátrico para Traqueostomia Transtumoral

Descrição

Introdução: Anamnese e exame físico adequados são cruciais para identificar via aérea difícil. Consideram-se histórico de laringoscopia trabalhosa, traumas faciais, radioterapia cervical e as tireoidopatias que deformam a anatomia e comprometem a plasticidade do pescoço. Dentre os carcinomas de tireoide, o subtipo folicular é o mais agressivo, achado histológico do presente caso. O câncer de tireoide representa apenas 1% de todos os carcinomas, mas pode acarretar via aérea difícil em 5,3% a 11,1% dos casos.
Relato de caso: feminina, 36 anos, com grande tumoração cervical anterolateral de 48 cm de circunferência, evolução de 10 anos e piora há 6 meses, com ortopneia importante e disfagia, psiquiátrica sem acompanhamento especializado, déficit cognitivo significativo, incapaz de compreender alguns comandos e pouco colaborativa. Indicada traqueostomia de urgência sob anestesia geral. Tomografia de tórax e pescoço mostrou grande lesão cervical, sólida, invasão vascular, importante desvio traqueal para esquerda e nódulos pulmonares de metástases. Foi oxigenada sob máscara e sedada minimamente com dexmedetomidina e remifentanil. Abordada por fibroscopia em posição semissentada e a leve extensão cervical permitida pelo tumor, com tentativas, nasal e oralmente, executadas por anestesiologistas experientes, não se obtendo êxito às custas da pouca colaboração e grande quantidade de secreção. O posicionamento foi otimizado com coxins sob os ombros e com laringoscópio convencional e lâmina articulada visualizou-se a abertura glótica e um tubo com espiral metálico tamanho 7,0 foi introduzido na traqueia. Induziu-se com propofol e manteve-se anestesia com remifentanil, sevoflurano e rocurônio. Ultrassonografia foi usada para localizar a traqueia sendo feita traqueostomia transtumoral e troca da cânula. O procedimento durou 210 minutos. Após uso de sugamadex e com parâmetros respiratórios normais, foi encaminhada à recuperação pós-anestésica. Obteve alta vigil após 120 min. Horas após, a paciente cursou com sangramento incoercível, obstrução da luz traqueal e perda da prótese ventilatória, evoluindo para óbito a despeito do pronto atendimento, restituição de via aérea e medidas de reanimação.
Discussão: A fibroscopia é método padrão ouro no manejo de via aérea difícil em situações semelhantes ao presente relato. No entanto, estabelecer perviedade de via
aérea para traqueostomia de urgência, em paciente com grande tumoração limitante da movimentação cervical, desvio de traqueia, muita secreção e pouca cooperação, tornaram a intubação inviável, mesmo em mãos experimentadas. O êxito usando laringoscópio convencional ratifica a importância do aprendizado e treinamento nessa técnica, a despeito da existência de soluções mais tecnológicas, cujo uso causa certo encantamento. Por fim, ressalta-se a importância de vigilância e pronto atendimento aos pacientes submetidos a procedimentos passíveis de complicações, notadamente aos de maior risco.

Referência 1

De Cassai A, Boscolo A, Rose K et al. Predictive parameters of difficult intubation in thyroid surgery: a meta-analysis. Minerva Anestesiol. 2020 Mar;86:317-326.

Referência 2

Honings J, Stephen AE, Marres HA et al. The management of thyroid carcinoma invading the larynx or trachea. Laryngoscope. 2010 Apr;120:682-689.

Palavras Chave

Via aérea difícil; Tumor tireoidiano;

Área

Anestesia de cabeça, pescoço, otorrinolaringológica e oftalmológica

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

RESIDÊNCIA - HOSPITAL SANTO ANTONIO BA ASSOCIAÇÃO OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE - Bahia - Brasil

Autores

EDUARDO MOREIRA ROCHA, RAIMUNDO MESSIAS DE ARAUJO, GABRIEL DO MONTE MACEDO, ELIOMAR SANTANA TRINDADE, ROSE PEREIRA CORDEIRO, DIJALMA GUEDES AGUIAR