Dados do Trabalho
Título
REAÇÃO ANAFILÁTICA GRAU IV INDUZIDA POR LÁTEX: RELATO DE CASO E REVISÃO DA LITERATURA
Descrição
Introdução: A alergia ao látex é uma das causas de anafilaxia intraoperatória a ser considerada principalmente em pacientes com exposições prévias. A rápida suspeição, retirada do agente causador e posterior confirmação são cruciais para redução da morbimortalidade e prevenção de novos eventos. Relato de caso: Homem, 45 anos, IMC 27 Kg/m², diabético tipo 2, ASA 2, internado para correção de fístula enterocutânea. Negava alergias e relatava 5 cirurgias intracavitárias nos últimos anos, sem intercorrências. Admitido em sala cirúrgica com parâmetros clínicos normais. Realizada anestesia peridural e antibioticoterapia (já em uso pelo paciente); indução anestésica com Fentanil, Lidocaína, Propofol e Rocurônio seguida de intubação orotraqueal e sondagem vesical de demora. Aproximadamente 45 minutos após a incisão cirúrgica, evoluiu com hipotensão (PAM de 55 mmHg) e taquicardia (FC de 100 bpm), sem resposta a vasopressor. Evoluiu para PCR em atividade elétrica sem pulso. Após 6 ciclos de reanimação o ritmo evoluiu para fibrilação ventricular, realizada desfibrilação cardíaca e Amiodarona. O paciente retornou ao ritmo sinusal após 8 ciclos de reanimação cardiopulmonar. Após retorno da circulação espontânea foi optado por suspensão cirúrgica. Durante a PCR interrogou-se anafilaxia ao Rocurônio, sendo administrado 1g de Hidrocortisona e 400mg de Sugamadex. O paciente persistiu hipotenso e taquicárdico, suspeitando-se então de alergia ao látex. A equipe fez troca de luvas, sonda vesical e equipamentos por material sem látex, o paciente teve cavidade abdominal fechada e foi encaminhado para UTI entubado. Uma hora após PCR foi coletada Triptase sérica (93,0 mcg/L, VR: 11,0 mcg/L). No 9º dia pós-operatório foi dosada Triptase basal (4,9 mcg/L) e IgE específica para látex (33,4 KU/L - alta sensibilização). A reabordagem para fechamento de aponeurose e confecção de colostomia foi realizada após 10 dias, em ambiente isento de látex, sem intercorrências. O paciente recebeu alta sem sequelas e com orientações sobre alergia ao látex. Discussão: O látex pode causar a reação de hipersensibilidade imediata (tipo I), conhecida como reação anafilática ou mediada por imunoglobulina E. A reação típica ocorre 30-60 minutos após o início da cirurgia, como descrito nesse caso. Pela classificação de Ring e Messmer, o grau IV é caracterizado pela PCR. A investigação apoia-se nas evidências clínica, biológica e alergológica. A biológica é obtida pela triptase e IgE. A triptase evidencia a ativação mastocitária e o período ideal para coleta é de 1-4 horas após o início da reação e a amostra de controle no mínimo 24 horas após a reação. A ativação mastocitária é definida por Triptase superior a 1,2 x Triptase basal + 2mcg/ L. A IgE específica deve ser colhida em até 6 meses após reação. A evidência alérgena consiste em avaliar fatores de risco, como contato recorrente com látex. O sucesso do manejo está em suspeitar nos primeiros sinais clínicos, removendo o causador precocemente.
Referência 1
Harper NJN, Cook TM, Garcez T, et al. Anaesthesia, surgery, and life-threatening allergic reactions: epidemiology and clinical features of perioperative anaphylaxis in the 6th National Audit Project (NAP6). Br J Anaesth, 2018; 121: 159e71.
Referência 2
Ring J, Messmer K. Incidence and severity of anaphylactoid reactions to colloid volume substitutes. Lancet. 1977 Feb 26;1(8009):466-9.
Palavras Chave
látex; anafilaxia; Parada Cardiorrespiratória
Área
Medicina Perioperatória
Fonte de financiamento
Privado
Instituições
CET DR. OTÁVIO DAMÁZIO FILHO - Pernambuco - Brasil
Autores
LARISSA TAVARES CORRÊA PINTO, MURILO ROBSON FABRÍCIO NASCIMENTO, PRISCILA EVARISTO DE CARVALHO VEIGA, JANE AUXILIADORA AMORIM, MARCIUS VINICIUS MULATINHO MARANHÃO, HELOÍSA MARIA FARIAS FONTES