Dados do Trabalho
Título
Hematoma Cervical tardio após Tireoidectomia Total – Relato de Caso
Descrição
Introdução
O hematoma cervical (HC) após uma tireoidectomia é uma complicação potencialmente fatal que pode evoluir rapidamente para a obstrução das vias aéreas. Sua incidência varia de 0,7% a 4,7%. É fundamental que o anestesiologista esteja apto a manejar a condição adequadamente.
Caso Clínico
M.E.D.H., feminina, 59 anos, ASA II, foi submetida a tireoidectomia total por bócio multinodular mergulhante. Em uso regular de Tamoxifeno após quadrantectomia com esvaziamento axilar à esquerda realizada em 2018. Procedida anestesia geral endovenosa com indução anestésica de Sufentanil 30 mcg, Rocurônio 40 mg, propofol TCI e Remifentanil TCI. Administrado ácido tranexâmico 1g conforme solicitação da equipe cirúrgica.
Ao exame físico, paciente apresentava retrognatismo. Na laringoscopia direta, foi visualizado Cormack-Lehane III A. A intubação orotraqueal foi realizada com videolaringoscópio e bougie, com passagem de tubo 7,5 armado com cuff. O procedimento cirúrgico teve duração de 1 hora, sem intercorrências. A paciente foi extubada na sala cirúrgica após reversão do bloqueio neuromuscular com sugamadex e encaminhada à sala de recuperação pós-anestésica, onde permaneceu por 90 minutos.
Após 7 horas do término do procedimento, a paciente foi encaminhada de emergência ao centro cirúrgico acompanhada da equipe assistente, após retirada dos pontos de sutura na enfermaria devido a HC apresentando tosse, dessaturação e rebaixamento do nível de consciência. Na admissão, observou-se sangramento abundante na ferida operatória. Tentou-se a intubação orotraqueal por laringoscopia direta, sem sucesso. Optou-se por cricotireoidostomia de emergência com passagem de tubo 7,5 com cuff, associada à indução anestésica com fentanil 150 mcg, midazolam 5 mg e rocurônio 50 mg, com manutenção anestésica com sevoflurano 1,5% para a confecção de traqueostomia.
Realizada transfusão de 1 bolsa de hemoconcentrado, administrado 3 ampolas de gluconato de cálcio e puncionada pressão arterial invasiva. Ao término do procedimento, a paciente foi encaminhada à CTI, estável hemodinamicamente.
Discussão
O HC pode ocorrer nas primeiras 24 horas do pós-operatório, sendo a maioria dos casos observados nas primeiras 6 horas. Os sinais e sintomas precoces incluem dor, assimetria, aumento do volume cervical e alterações na voz. A obstrução das vias aéreas por HC ocorre por compressão direta e por alterações na drenagem venosa e linfática, aumentando o edema. Esses pacientes são suscetíveis ao colapso das vias aéreas, portanto uma equipe cirúrgica deve estar a postos para potencial realização de acesso cirúrgico a via aérea. A evacuação do HC pelo anestesiologista pode ser necessária na ausência do cirurgião.
Referência 1
Gerasimov, M; Lee, B; Bittner, EA. Hematoma Cervical (HC) no pós- operatório: a intervenção rápida é vital. Boletim da APSF. 2021;36:44-47.
Referência 2
Carvalho, A; Gomes, C; Chulam, T. Risk Factors and outcomes of Postoperative Neck Hematomas: an analysis of 5,900 thyroidectomies performed at a Cancer Center. Int Arch Otorhinolaryngol 2021;25(3):e421-e427.
Palavras Chave
Hematoma cervical; obstrução de vias aéreas; Complicações Pós-operatórias
Área
Anestesia de cabeça, pescoço, otorrinolaringológica e oftalmológica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET CLÍNICA DE ANEST.RIBEIRÃO PRETO-CARP - São Paulo - Brasil
Autores
ISABELLA MARTINS CASSIANO ANTUNES SILVEIRA, LEANDRO CRISCUOLO MIKSCHE , PAULO SERGIO MATEUS MARCELINO SERZEDO, THIAGO DE FREITAS GOMES, GABRIELLE BAZAN CAMASSOLA, GUILHERME COELHO MACHADO NUNES