Dados do Trabalho
Título
Relato de Caso: Manejo anestésico de paciente em uso de varfarina para cesariana de emergência
Descrição
Introdução: O manejo de uma paciente gestante em anticoagulação com varfarina é uma situação incomum na rotina do anestesiologista, visto que essa medicação é usualmente interrompida na gestação pelo seu potencial teratogênico. Além dos riscos atrelados à anestesia geral na gestante, o uso de anticoagulantes aumenta significativamente o risco de sangramento no intraoperatório e o surgimento de hemorragias ameaçadoras à vida.
Relato de Caso: Trata-se de paciente de 40 anos, gestante de 39 semanas, com indicação de cesariana de emergência devido a pré-eclâmpsia grave e sofrimento fetal agudo. Relatava diagnóstico de hipertensão arterial crônica, além de histórico de trombose cerebral em 2020 – desde o episódio, fazia uso de varfarina 5mg/dia, sem acompanhamento regular, e não houve interrupção da medicação durante a gestação. Não foi realizado coagulograma à admissão no Centro Obstétrico. Relatava duas cesáreas prévias, sem intercorrências. Negava alergias medicamentosas. Jejum superior a 8 horas. Foi admitida com PA de 198x134mmHg, FC 105 bpm e saturação de 92%. Devido ao relato de uso de varfarina, foi optado por anestesia geral. Realizada indução com fentanil 200mcg, propofol 100mg e succinilcolina 100mg, e obtido sucesso na primeira tentativa de intubação orotraqueal. Administrado 10mg de Vitamina K via intramuscular e solicitada reserva de concentrados de hemácias e plasma fresco congelado. Durante o procedimento, paciente apresentou estabilidade hemodinâmica e sangramento de volume habitual, não sendo realizada transfusão de hemocomponentes. Foi extubada ao término da cirurgia sem intercorrências, e encaminhada à sala de recuperação pós anestésica. O coagulograma coletado após a cesárea evidenciou: Tempo de Protrombina 36,1s; INR 3,04; TTPA 54,6s.
Discussão: A varfarina é um antagonista da vitamina K que interfere na síntese de múltiplos fatores de coagulação, incluindo os fatores II, VII, IX, X e Proteínas C e S. A atividade da varfarina é monitorada através do Tempo de Protrombina (TP), um teste que é afetado por reduções na fatores II, VII e X. O TP é convertido em INR, cuja meta típica é de 2,0 a 3,0 para a maioria das indicações. A vantagem da varfarina em um cenário de procedimentos cirúrgicos de urgência e emergência é que seus efeitos podem ser revertidos. Recomenda-se a administração intravenosa de 5 a 10 mg de Vitamina K em 30 minutos associado a Concentrado de Complexo Protrombínico (CCP). A literatura mostra que o CCP é superior ao Plasma Fresco Congelado (PFC) para hemostasia eficaz e normalização do INR. Entretanto, em um cenário clínico de choque hemorrágico, o uso de PFC pode ser mais vantajoso, pois promove a ressuscitação volêmica quando usado em conjunto com outros hemocomponentes. No presente relato de caso, não houve complicações hemorrágicas. Contudo, é importante que o anestesiologista esteja familiarizado com as condutas preconizadas no manejo de uma gestante anticoagulada em um cenário de urgência e emergência.
Referência 1
Wallisch WJ, Kidd B, Shen L. et al. Coagulopathy and Emergent Reversal of Anticoagulation. Anesthesiology Clinics. 2023; 41(1): 249-261.
Referência 2
Curtis R, Schweitzer A, van Vlymen J. Reversal of warfarin anticoagulation for urgent surgical procedures. Can J Anaesth. 2015 Jun;62(6):634-49
Palavras Chave
cesariana; Anticoagulação; Gestante
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET INTEGRADO HRAN-HRT-ISMEP - Distrito Federal - Brasil
Autores
JACKELINE LOHANE ARAUJO LUCCHESI, MARIO JEFFERSON MEDEIROS E CARVALHO, JULIANA MARIA DOS SANTOS CARDOSO