Dados do Trabalho
Título
Terapia hemodinâmica guiada por objetivos em cirurgias abdominais: uma revisão das estratégias de manejo de fluidos
Descrição
Justificativa e objetivos: Existem três estratégias de terapia hemodinâmica intraoperatória: terapia liberal (TL), terapia restritiva (TR) e terapia hemodinâmica guiada por objetivos (THGO)1,2. A THGO visa índices hemodinâmicos e perfusão tecidual ideais, sem sobrecarga de fluidos, por meio da monitoração estática e dinâmica da volemia3,4. Estudos demonstram que a THGO se associa à redução da morbidade e de complicações pós-cirúrgicas4-6, mas não há consenso2,7. Esta revisão compara as principais evidências da literatura quanto ao uso da THGO e da TL e a ocorrência de complicações peri e pós-operatórias em cirurgias abdominais e confronta os resultados com as evidências acerca do uso da TR. Metodologia: Utilizou-se as plataformas Cochrane, Pubmed e Science Direct, com os descritores “Fluid therapy”, “Hemodynamic monitoring” e “Postoperative period”, encontrando 619 artigos dos últimos 5 anos, dos quais 15 foram incluídos. Acrescentou-se o ensaio clínico RELIEF e uma revisão sistemática da Cochrane. Resultados: Os estudos demonstram que a mortalidade é semelhante na TL e na THGO8,9. O tempo de internação hospitalar foi menor nos grupos de THGO7,10,11. O volume administrado durante o ato cirúrgico foi significativamente maior nos grupos que receberam a TL7,9-14,15. Nos procedimentos que envolviam anastomose de alça intestinal, a maior quantidade de volume administrada se associou a mais edema de parede intestinal e vazamento pelas anastomoses12. A THGO mostrou melhores resultados no tempo de recuperação das anastomoses, complicações pulmonares e hipotensão7-12,16. Observou-se menor necessidade de hemotransfusão e menor variação nos sinais vitais17. A TL se relacionou a uma incidência menor de injúria renal aguda (IRA)14,18. Um estudo demonstrou que a ocorrência de náuseas e vômitos no pós-operatório é maior na THGO utilizando coloide, porém semelhante na THGO com ringer lactato e na TL19. Outras complicações (sangramento, infecção de ferida, edema de tecido) foram semelhantes entre os grupos de TL e THGO9-11,16,20,21. A TR demonstrou resultados semelhantes à THGO, mas relaciona-se a uma maior taxa de IRA2,14,22. O RELIEF demonstrou relação entre menor volume administrado e maior incidência de infecção de ferida operatória, provavelmente por hipoperfusão tecidual. A restrição de volume se relacionou a maior incidência de IRA14. Em contrapartida, a revisão sistemática da Cochrane refere que não se observam grandes diferenças nos desfechos de complicações e qualidade da recuperação pós-operatória em populações de baixo risco22. Conclusão: A THGO resultou em menores complicações relacionadas a anastomose, complicações pulmonares, hipotensão e necessidade de hemotransfusão, mas maiores complicações renais em relação a FTL. A TR resultou em maior hipoperfusão e IRA. A diferença nos desfechos pós-operatórios com o uso de terapias definidas evidencia a necessidade de conhecer suas aplicações. Ressaltamos a necessidade de mais estudos sobre o assunto.
Referência 1
Myles PS, Bellomo R, Corcoran T et al. Restrictive versus liberal fluid therapy for major abdominal surgery. N Engl J Med. 2018;378(24):2263-2274.
Referência 2
Dranichnikov P, Semanas E, Graf W et al. The impact on postoperative outcomes of intraoperative fluid management strategies during cytoreductive surgery and hyperthermic intraperitoneal chemotherapy. Eur J Surg Oncol. 2023;49(8):1474-80.
Palavras Chave
Fluid therapy; Hemodynamic monitoring; Postoperative period
Área
Sistema Hematológico, Coagulação, Transfusão, Reposição Volêmica e PBM
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI - Minas Gerais - Brasil
Autores
EMANUELLE VAZ GONTIJO, ISABELA DUARTE ARRUDA, MARIA LÍVIA MOREIRA ABREU, SAMUEL BARBOSA FRANCISCO DE SOUZA