Dados do Trabalho
Título
Anestesia para cesárea em paciente portadora de esclerose múltipla
Descrição
A esclerose múltipla (EM) é uma doença desmielinizante e neurodegenerativa do sistema nervoso central (SNC). Trata-se de uma desordem auto-imune que ocorre em pacientes geneticamente susceptíveis, com influência epigenética, sendo mais comum no sexo feminino. A patologia apresenta períodos de exacerbação e remissão em intervalos imprevisíveis e em se tratando de gestante, constatou-se que mais da metade das recaídas ocorrem no período pós-parto, podendo haver aumento do grau de deficiência da paciente.
Mulher, 26 anos, gestante de 39 semanas e 3 dias, portadora de Esclerose Múltipla (EM), em uso de natalizumabe, assintomática, deu entrada no centro obstétrico para realização de cesárea eletiva. Foi programada anestesia subaracnóidea, com a paciente sentada, punção única entre as vértebras L3 e L4, administrados bupivacaína hiperbárica (12,5 mg), morfina (0,1 mg). Após o decúbito dorsal foi administrado Metaraminol (1 mg), dexametasona e dimenidrinato. Após retirada do feto, foram administrados Ocitocina (15UI), Dipirona (2g) e Cetoprofeno (100mg). Ao término do procedimento cirúrgico, com duração aproximada de 1h e 30min, a paciente foi encaminhada à sala de recuperação pós anestésica, onde permaneceu 30 minutos em observação, sem queixas, com bloqueio motor completo em MMII, sendo encaminhada à enfermaria. Passadas 12 horas pós cirurgia, a paciente deambulava normalmente, com diurese espontânea, queixando-se de leve dor em ferida operatória. Teve alta hospitalar no segundo dia pós-operatório, sem sinais clínicos de exacerbação da EM, não apresentando parestesia ou queixas relacionadas ao aparelho locomotor ou vestígios de novos sintomas.
Apesar da paciente portadora de EM poder apresentar maior sensibilidade aos bloqueios de neuroeixo, com maior tempo de bloqueio e menor necessidade de massa anestésica, estudos não comprovaram correlação entre esse tipo de abordagem e exacerbações da doença ou aumento de área desmielinizada, não representando piora no prognóstico da EM. Se for optado por anestesia geral, deve-se considerar adequar as drogas utilizadas em indução e manutenção anestésica. Por exemplo: a succinilcolina deve ser evitada pelo risco aumentado de hiperpotassemia e bloqueadores adespolarizantes podem ter efeito prolongado e retardar o desmame de ventilação mecânica para extubação após procedimento. Não existem contraindicações absolutas a ambos os métodos. Apesar da abordagem do neuroeixo ser a escolha na maioria das pacientes, vale adequar a técnica anestésica às demais comorbidades da paciente portadora de EM.
Referência 1
Dierdorf SF Anestesia para pacientes com doenças raras e coexistentes, em: Barash PG, Cullen BF, Stoelting RK Anestesia Clínica, 4ª Ed, São Paulo, Manole, 2004;491-520
Referência 2
Varytė G, Zakarevičienė J, Ramašauskaitė D, Laužikienė D, Arlauskienė A. Pregnancy and Multiple Sclerosis: An Update on the Disease Modifying Treatment Strategy and a Review of Pregnancy's Impact on Disease Activity. Medicina (Kaunas). 2020 Jan 21;56(2):49. doi: 10.3390/medicina56020049. PMID: 31973138; PMCID: PMC7074401
Palavras Chave
esclerose múltipla; raquianestesia; anestesia obstétrica
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET DA ASSOC.OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE - Bahia - Brasil
Autores
GABRIEL DO MONTE MACEDO, EDUARDO MOREIRA ROCHA, DIJALMA GUEDES AGUIAR, ARTHUR BOMFIM PEREIRA, ELIOMAR SANTANA TRINDADE, DANIEL VELOSO VIANA BOMFIM