Dados do Trabalho
Título
Possível hipertermia maligna em paciente submetido a ressecção transuretral de próstata: relato de caso clínico
Descrição
Introdução. A hipertermia maligna (HM) é uma síndrome farmacogenética rara, de herança autossômica dominante, caracterizada por hipermetabolismo e rabdomiólise. Anestésicos halogenados e succinilcolina são desencadeantes¹. A maioria das mutações ocorre nos genes dos receptores de Rianodina (RYR1)2 e Dihidropiridina levando a acúmulo de cálcio no citosol do miócito. No quadro clínico característico há hipercapnia, taquicardia, aumento do consumo de O2, hipertermia, rigidez muscular, hipercalemia e aumento da creatinafosfoquinase (CPK). Segue relato de um caso suspeito de HM com apresentação não característica. Relato de caso. Paciente masculino, 45 anos, ASA II (hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia). Submetido à ressecção transuretral de próstata sob anestesia geral com sevoflurano. Na indução houve via aérea difícil com uso de videolaringoscópio. Não houve intercorrências no intraoperatório. Após a extubação apresentou hipoxemia súbita, não foi possível ventilar sob máscara facial e evoluiu com parada cardiorrespiratória (PCR). Durante a ressuscitação cardiopulmonar, a laringoscopia evidenciou cordas vocais tonicamente fechadas (laringoespasmo) e foi administrada succinilcolina 1 mg/kg, com relaxamento das cordas vocais, intubação bem-sucedida e retorno a circulação espontânea (RCE) após 6 minutos de PCR. Gasometria arterial após RCE demonstrou potássio de 8 mEq/dl e acidose mista. Nas primeiras 24 horas, apesar de normotermia e estabilidade hemodinâmica, evoluiu com lesão renal aguda, anuria e hipercalemia refratária. A hipótese etiológica para lesão renal foi rabdomiólise por possível HM. Foi então colhido CPK com resultado maior que 160.000 U/L. Discutido caso com o HOTLINE da HM da Unifesp cerca de 48 horas após o início da crise e iniciado Dantrolene 100 mg de 6/6h por 48 horas. A evolução da CPK 1, 2, 3, 5 e 7 dias após início do tratamento foi 127.000, 67.955, 37.432, 5.639 e 953 U/L, respectivamente. Permaneceu internado por um mês por complicações infecciosas e segue em hemodiálise ambulatorial. Orientado quanto a realização do teste de contratura em resposta à cafeína e ao halotano (TCHC), porém ainda não tem resultado. Discussão. Neste caso restam questões: 1) A crise iniciou pela exposição ao sevoflurano ou após a succinilcolina? 2) Houve PCR ao final do procedimento, ou apenas rigidez muscular relacionada a HM? Lembrando que pacientes em PCR não mantem laringoespasmo. Tais questões, somadas a ausência de hipertermia, ou relato de hipercapnia significativa, obscureceram o diagnóstico. Por outro lado, hipercalemia sem outra etiologia deve levantar a hipótese de HM e, nesse caso, deveria ter desencadeado a dosagem de CPK e discussão do caso com o HOTLINE. Sem o resultado do TCHC, não há confirmação de HM, podendo corresponder a uma síndrome HM-like.
Referência 1
Hopkins PM, Girard T, Dalay S, et al. Malignant hyperthermia 2020: guideline from the Association of Anaesthetists. Anaesthesia. 2021;76:655–64. https://doi.org/10.1111/anae.15317.
Referência 2
Cholak S, Saville JW, Zhu X, et al. Allosteric modulation of ryanodine receptor RyR1 by nucleotide derivatives. Structure. 2023 Jul 6;31(7):790-800.e4. doi: 10.1016/j.str.2023.04.009. Epub 2023 May 15. PMID: 37192614; PMCID: PMC10569317.
Palavras Chave
hipertermia maligna; Dantrolene; Hipertermia Maligna like
Área
Doenças Neuromusculares e Medicamentos
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
RESIDÊNCIA - REDE D OR SAO LUIZ S.A. - São Paulo - Brasil
Autores
NATÁLIA FRANCIS GONÇALVES FARINHA, SAULLO QUEIROZ SILVEIRA, LEOPOLDO MUNIZ DA SILVA, RAFAEL SOUZA FAVA NERSESSIAN, FERNANDO NARDY BELLICIERI, MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CARVALHO