Dados do Trabalho
Título
Raquianestesia total após anestesia peridural em abdominoplastia: um relato de caso
Descrição
Introdução: A raquianestesia total é caracterizada pela propagação cefálica não intencional de agentes anestésicos para o espaço subaracnóideo, chegando ao tronco encefálico, que pode acontecer durante a anestesia peridural, subaracnóidea, paravertebral, plexo braquial e outros bloqueios próximos à coluna vertebral. Possui incidência que varia de 1:2.921 a 1:16.000 na literatura. As manifestações clínicas geralmente são hipotensão abrupta, apneia, perda de consciência, midríase e até mesmo parada cardíaca. Esse relato de caso apresenta um quadro de raquianestesia total após anestesia peridural em uma cirurgia plástica em que o reconhecimento precoce é essencial.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 48 anos, 155 cm, 64 Kg, portadora de hipertensão e hipotireoidismo, com programação de abdominoplastia e lipoaspiração. Passado de laqueadura, colecistectomia e histerectomia, sem intercorrências. Negava alergias. Após monitorização, foi realizada sedação venosa com midazolam 5mg e fentanil 75 mcg. Posicionada em decúbito lateral e realizada punção lombar entre os segmentos L2-L3 com agulha Tuohy 16 G utilizando a técnica de perda de resistência, e houve perfuração acidental da dura-máter. Realizada nova tentativa de punção em L1-L2, desta vez sendo notada a perda de resistência, e não houve gotejamento de líquor. Injetado, sem resistência, 10 ml de lidocaína com vasoconstrictor, seguido de 2 mg de morfina e 20 mcg de sufentanil. Na sequência, injetado 15 ml de ropivacaína a 0,75%. Passado cateter peridural sem dificuldade, e injetado através do cateter 5 ml de ropivacaína a 0,75%. A paciente foi posicionada em decúbito dorsal, e após poucos minutos, constatou-se que ela apresentava apneia, hipotensão arterial (PA = 74x50 mmHg) e pupilas midriáticas. Foi intubada e mantida em ventilação mecânica. Apresentou boa resposta após administração de 10 mg de efedrina, mantendo estabilidade hemodinâmica durante todo o procedimento. Após cerca de 240 minutos, ocorreu o despertar da paciente, e após, foi mantida sob anestesia geral inalatória. Ao término da cirurgia, 420 minutos após a peridural, a paciente foi extubada sem intercorrências. No dia seguinte, não referiu cefaleia, consciência intraoperatória ou queixas álgicas.
Discussão: A raquianestesia total ocorre quando o anestésico local interfere com a função neuronal na medula espinhal cervical e tronco cerebral. Os mecanismos envolvidos nesse evento são desconhecidos, e os estudos não foram capazes de demonstrar um padrão claro. No presente caso, o fator que propiciou a raquianestesia total não ficou evidente. Além da hipótese de injeção inicial inadvertida de medicações no espaço subaracnóideo, existe a possibilidade de perfuração acidental da dura-máter pelo cateter peridural. Por fim, questionamos se a perfuração da dura-máter na primeira tentativa de punção contribuiu para a ocorrência da raquianestesia total. Graças ao rápido reconhecimento do evento, a paciente não apresentou complicações.
Referência 1
Beyaz, SG., Özocak H., Ergönenç T et. al (2014). Total spinal block after thoracic paravertebral block. Turkish journal of anaesthesiology and reanimation, 42(1), 43.
Referência 2
World Federation of Societies of Anesthesiologists. Complete Spinal Block Following Spinal Anaesthesia: Virtual Library. Disponível em: https://resources.wfsahq.org/atotw/complete-spinal-block-following-spinal-anaesthesia/. Acesso em 05 de agosto de 2024.
Palavras Chave
Anestesia Peridural; raquianestesia total
Área
Anestesia Regional
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET INTEGRADO HRAN-HRT-ISMEP - Distrito Federal - Brasil
Autores
JACKELINE LOHANE ARAUJO LUCCHESI, FLÁVIO TAVARES SAMPAIO, VERÔNICA CRISTINE RODRIGUES COSTA, MANUELA MENDES ANDRAOS, JULIANA MARIA DOS SANTOS CARDOSO, PAULO SERGIO DE PAULA SOARES JUNIOR