Dados do Trabalho
Título
Dexmedetomidina como estratégia pré-anestésica para paciente autista submetida a neurocirurgia: relato de caso
Descrição
Introdução: A indução anestésica em pacientes com transtorno do espectro autista (TEA) é desafiadora, uma vez que a agitação pode colocar em risco a integridade física do paciente e de terceiros, bem como dificultar a realização de medicações pré-anestésicas por via oral, nasal ou venosa. Nesse cenário, a utilização da via intramuscular (IM) desponta como alternativa viável, visto que não depende da colaboração do paciente.
Relato de caso: YLS, 20 anos, feminino, 70kg, portadora de TEA grave e neuralgia do trigêmeo, foi admitida no Hospital das Clinicas da UFMG para realização de neurólise trigeminal. Ao exame pré-anestésico, paciente não comunicativa devido ao TEA, agitada e não colaborativa. Optado pela administração de pré-medicação com Dexmedetomidina 120mcg e Cetamina 60mg via intramuscular. Dez minutos após a administração das drogas, esta apresentava-se sonolenta e não combativa, permitindo a transferência para sala operatória, monitoração não invasiva e punção venosa, sem resistência. Na sequência, feita indução anestésica por via venosa, seguida de intubação orotraqueal, sem intercorrências. No intraoperatório, a paciente manteve-se estável hemodinamicamente e sem bradicardia significativa. Ao final, paciente transferida ao CTI ainda intubada e estável hemodinamicamente.
Discussão: No que se refere a medicações pré-anestésicas de uso IM, a cetamina é tradicionalmente utilizada, porém apresenta efeitos colaterais dose-dependentes como alucinações, sialorréia, hipertensão, taquicardia, náuseas e vômitos, que dificultam seu uso isolado. Contudo, quando associada a agentes hipnóticos sinérgicos, permite o uso de doses menores, mitigando assim seus efeitos colaterais. A associação com midazolam IM, embora descrita, pode propiciar agitação paradoxal, algo não desejado em pacientes com TEA. Já a dexmedetomidina, droga α2-adrenérgica, além de apresentar propriedades analgésicas e sedativas, pode contrabalancear a taquicardia e hipertensão induzida pela cetamina através da sua ação simpaticolítica, sendo uma opção interessante nessa situação. Não obstante, esse fármaco diminui o consumo de opioide e a agitação pós-operatória. Quando administrado por via venosa, apresenta um comportamento hemodinâmico bifásico caracterizado por um rápido aumento da pressão arterial média, seguido de bradicardia reflexa. Entretando, quando administrado por via intramuscular, ocorre uma redução gradual de ambos os parâmetros, demonstrando um melhor perfil hemodinâmico. Um estudo analisando o uso de 2mg/kg de cetamina associado à 1,5mcg dexmedetomidina IM para sedação, encontrou um início de efeito em 4,8 minutos. No relato de caso acima, foi utilizada uma dose ainda menor de cetamina (0,85mg/kg), obtendo-se o efeito desejado em dez minutos. Com isso, verifica-se o potencial dessa associação como aliada para manejo de pacientes pouco colaborativos para a indução anestésica, porém, a literatura ainda carece de estudos para estabelecer qual a dose ideal para esse fim.
Referência 1
Guthrie DB et al. Retrospective Comparison of Intramuscular Admixtures of Ketamine and Dexmedetomidine Versus Ketamine and Midazolam for Preoperative Sedation. Anesth Prog. 2021 Mar 1;68(1):3-9.
Referência 2
Tammam TF. Comparison of the efficacy of dexmedetomidine, ketamine, and a mixture of both for pediatric MRI sedation. Egypt J Anaesth. 2013;29:241–246
Palavras Chave
Cetamina; dexmedetomidina; transtorno do espectro autista
Área
Medicina Perioperatória
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
RESIDÊNCIA - HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFMG - Minas Gerais - Brasil
Autores
GEOVANA TORRES DE SOUZA , CAIO CÉSAR LEVATE AMARAL, CAMILA BORGES FERREIRA , VICTOR TOLEDO GUILARDUCCI, ITALA FERREIRA DE JESUS, ANDRÉ VINICIUS CAMPOS ANDRADE