Dados do Trabalho
Título
Laceração traqueal e pneumomediastino após intubação orotraqueal com Bougie: Relato de Caso
Descrição
Introdução: A gestão das vias aéreas (VA) é um aspecto crítico na prática da anestesia e dos cuidados intensivos. A intubação pode ser desafiadora e associada a riscos significativos, especialmente em pacientes com características anatômicas ou condições patológicas que complicam o acesso às vias aéreas. O bougie, um dispositivo semirígido projetado para facilitar a inserção do tubo endotraqueal, é uma ferramenta útil em situações de via aérea difícil. Contudo, o dispositivo não está isento de riscos e complicações graves podem ocorrer. Este relato descreve uma complicação rara e grave observada após instrumentação da VA com bougie, destacando a importância da vigilância e do manejo cuidadoso durante o procedimento. Relato de Caso: Paciente feminino, 74 anos, IMC de 40 kg/m2, hipertensão arterial, DM tipo 2, depressão, etilismo crônico, DPOC, apneia do sono e síndrome de Pickwick. Foi internada para tratamento de dengue grupo C associada à exacerbação de DPOC. Evoluiu com insuficiência respiratória em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), necessitando de intubação orotraqueal por rebaixamento do nível de consciência. A equipe de intensivistas conduziu o caso com administração de cetamina, fentanil e rocurônio, e a intubação foi realizada com videolaringoscopia e introdução de bougie. Durante o procedimento, observou-se resistência na progressão do dispositivo na traqueia, que foi superada com o reposicionamento do dispositivo. O tubo endotraqueal número 8,0 foi então posicionado e confirmado por capnografia. Após a intubação, a paciente desenvolveu enfisema subcutâneo gigante nas regiões de pescoço e face. A angio TC de tórax revelou uma laceração paratraqueal à carina com pneumomediastino, necessitando de traqueoplastia para o reparo da laceração. Foi mantida intubada até a completa cicatrização do reparo. Discussão: Este caso ressalta as dificuldades inerentes à manipulação das vias aéreas e a necessidade crítica de treinamento especializado e manejo cuidadoso ao utilizar dispositivos como o bougie. O bougie deve ser inserido entre as cordas vocais sob visualização direta avançado com cautela para evitar a introdução excessiva, que pode lesionar estruturas anatômicas da traquéia e do mediastino. A resistência encontrada durante a progressão do bougie sugere a possibilidade de engajamento inadequado ou sobreposição de estruturas anatômicas, o que representa risco de lacerações ou perfurações. A presença de enfisema subcutâneo após a intubação constata o trauma em via aérea, e a angiotomografia de tórax confirmou a gravidade da lesão com pneumomediastino. A identificação precoce dessas complicações foi fundamental para o manejo adequado, incluindo a decisão de realizar uma traqueostomia e traqueoplastia da lesão. Este caso ressalta a necessidade crucial de colaboração preventiva e suporte contínuo da equipe de anestesiologia em ambientes de UTI, especialmente para pacientes com alto risco de complicações das vias aéreas.
Referência 1
R. S. Gossage et al. "Management of difficult airways: Current practice." Anesthesia & Analgesia, 2023.
Referência 2
J. L. Glick et al. "Complications of tracheal intubation: A review." Critical Care Medicine, 2022.
Palavras Chave
intubação endotraqueal lesão traqueia; vIA AEREA;
Área
Gerenciamento de vias aéreas
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
CET DO HOSPITAL BRASÍLIA - Distrito Federal - Brasil
Autores
MARCELLA CHRISTINE TAUIL TAVARES SOUZA, LUIZ FELIPE FALCAO DE SOUZA, ANNA LECTICIA MARTINS DE ARAUJO CARVALHO, ALEX JULIO TRAMONTINI