Dados do Trabalho
Título
Desafios na Intubação e Manejo Anestésico em Traumatismo Cranioencefálico Penetrante: Experiência com Fragmento de Madeira e Estratégias de Via Aérea Difícil (VAD)
Descrição
A ocorrência de lesões encefálicas penetrantes causadas por objetos de baixa energia é rara, com poucos casos documentados na literatura. O caso em questão é notável devido às grandes dimensões do objeto envolvido, um fragmento de madeira com 40 cm de comprimento, e à sua projeção póstero-anterior na hemiface direita. Essa região é frequentemente manipulada durante a intubação orotraqueal, exigindo a adaptação de técnicas e o uso de dispositivos auxiliares para manejo de VAD.
Paciente masculino, 28 anos, 1,65 m, 60 kg, ASA 1, foi admitido no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes por evacuação aeromédica, vítima de acidente de trabalho com traumatismo cranioencefálico penetrante por fragmento de madeira.
À admissão, o paciente encontrava-se hemodinamicamente estável, eupneico em ar ambiente, com uma Escala de Coma de Glasgow de 12. Apresentava um corpo estranho penetrante, um fragmento de madeira medindo 40 cm x 5 cm x 3 cm, localizado na região temporo-frontal direita, com herniação de tecido encefálico e perda de líquido cefalorraquidiano. O objeto tinha uma implantação de 6 cm no crânio, e a tomografia computadorizada revelou um significativo edema perilesional, além de fraturas no processo mastoide, órbita e arco zigomático.
Decidida a realização da intubação orotraqueal (IOT) na maca de transporte para evitar a movimentação adicional do corpo estranho. Iniciada pré-oxigenação com O2 100% por 3 minutos à 5 L/min, utilizando máscara facial. Em seguida, realizada indução anestésica com Fentanil 180 mcg, Lidocaína 90 mg, Propofol 120 mg e Rocurônio 70 mg. Devido à projeção póstero-anterior na hemiface direita e à mobilização limitada do crânio, não foi possível alcançar o posicionamento ideal para laringoscopia direta. Utilizou-se um videolaringoscópio McGrath Mac e o bougie como dispositivo auxiliar, com avaliação de Cormack-Lehane 2b. A IOT foi realizada com sucesso na primeira tentativa com tubo orotraqueal 7,5 aramado, sem intercorrências.
Posteriormente, foi realizado um scalp block com 8 mL de solução de ropivacaína 0,5% e lidocaína 1%. Iniciada monitorização invasiva da pressão arterial e as gasometrias seriadas. A manutenção anestésica seguiu com infusão alvo controlada (IAC) de propofol 1% em bomba de TCI, utilizando o modelo de Marsh, e IAC de sulfentanil.
Ao final da cirurgia, optou-se pela extubação do paciente na sala operatória. Foi encaminhado ao CTI com Aldrete 9.
Após 14 dias de internação, o paciente recebeu alta hospitalar sem déficits motor e com programação de cranioplastia futura.
O controle da VAD no trauma demanda uma abordagem cuidadosa e protocolos precisos. O planejamento estratégico a avaliação e ação rápida são imprescindíveis.
O acesso à dispositivos de auxílio como vídeo laringoscópio e dispositivo bougie são de suma importância, assim como o treinamento e a educação continuada são fundamentais para o desenvolvimento de profissionais com alta capacidade técnica e com habilidades não-técnicas.
Referência 1
MARTINS MP, ORTENZI AV, PERIN D et al. Recommendations from the Brazilian Society of Anesthesiology (SBA) for difficult airway management in adults. Brazilian Journal of Anesthesiology 2024; 74 (1): 744477
Referência 2
ANDRADE GC, SILVEIRA RL, ARANTES AA et al. Penetrating brain injury due to a large asbestos fragment treated by decompressive craniectomy: case report. Arq. Neuro-Psiquiatr 2004; 62 (4)
Palavras Chave
Via aérea difícil; Intubação de sequência rápida; Trauma cranioencefálico
Área
Gerenciamento de vias aéreas
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
CET DO HEAPN-SARACURUNA - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
DÉBORA DOS REIS GUIMARÃES MONTEIRO, MARINA SILVA RODRIGUES, PEDRO ASSIS PINTO RIBEIRO, PEDRO HENRIQUE ANTUNES FREITAS MARTINS , MARCO AURÉLIO FLORENCIO DA SILVA, LUCAS PINHEIRO MAIA