Dados do Trabalho


Título

Evento adverso grave em pós-operatório imediato de paciente com Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono

Descrição

Introdução: Os eventos adversos mais frequentes no pós-operatório imediato são os relacionados às vias aéreas (VA), sendo a causa mais comum a depressão e insuficiência respiratória induzidas por opioides ou consequente à paralisia residual1. Em pacientes com apnéia obstrutiva do sono (SAOS) os efeitos depressores da anestesia acentuam o relaxamento das VA exigindo maior atenção no cuidado pós-operatório.
Relato de caso: Paciente de 75 anos, ASA II, 58 Kg, a ser submetido a prostatectomia a laser, antecedente de hipertensão tratado com losartana, hidroclorotiazida e tansulosina. Indução anestésica com fentanil 100µg, propofol 150mg, lidocaína 60mg, rocurônio 30mg e manutenção com máscara laríngea (ML), sevoflurano CAM 1,5-1,8 e remifentanil total 200µg. Ao fim de 3 horas de procedimento, mantendo parâmetros vitais normais, incluindo capnografia com pCO2 de 28 a 30 mmHg, foi administrado sugamadex, 200 mg, e retirada a ML. Em segundos, paciente apresenta dessaturação e apneia, recebendo ventilação com pressão positiva sob máscara, suxametônio 20mg e nalbufina 10mg. Teve reversão do quadro e foi encaminhamento à recuperação anestésica (SRA). Após 90 minutos recebe alta em Aldrete Kroulic 10 e cateter nasal de O2 2L/min. Cerca de 9 horas após admissão no quarto, enfermagem relata sonolência profunda, rebaixamento de consciência, PA 129 x 56, FC 85, FR 8, SpO2 67% e clínico observa pupilas mióticas não reagentes, fazendo diagnóstico de depressão respiratória por opioide e foi administrado naloxona 0,4 mg. A gasometria arterial revela pH 6,86, pCO2182,7, pO2 73,4, HCO2 32,5. Sem reversão do quadro é encaminhado a UTI em Glasgow 3. Realizada intubação orotraqueal e nova dose de naloxona com despertar do paciente. Evoluiu com melhora clínica e tomografia de crânio sem alterações agudas. Extubado 2 dias depois e alta hospitalar consciente e estável no quarto dia. Na análise da causa-raiz do evento adverso nota-se que na avaliação pré-anestésica (APA) não foi mencionado o diagnóstico de SAOS por polissonografia nem a não utilização domiciliar de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) pelo paciente.
Discussão: A insuficiência respiratória hipercapneica tem grande impacto na morbimortalidade hospitalar podendo ser causa a presença da SAOS associada ao uso de opioides2. Trata-se de um evento adverso grave, evitável, com potencial letalidade, onde o desconhecimento da SAOS conduziu a diagnóstico e condutas inadequadas, tendo em vista que esta condição altera a capacidade de despertar frente a estímulos hipóxicos e hipercárbicos.

Referência 1

Kluger MT, Bullock MF. Recovery room incidents: a review of 419 re- ports from the Anaesthetic Incident Monitoring Study (AIMS). Anaesthesia. 2002;57(11):1060-6

Referência 2

CHUNG, Yewon; GARDEN, Frances L; MARKS, Guy B; VEDAM, Hima. Causes of hypercapnic respiratory failure and associated in-hospital mortality. Respirology, v. 28, n. 2, p. 176-182, fev. 2023.

Palavras Chave

evento adverso; síndrome obstrutiva da apneia do sono; depressão respiratória

Área

Segurança do paciente, melhoria da qualidade e comunicação

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET INSTITUTO PREVENT SENIOR - São Paulo - Brasil

Autores

SUZZANNA INGRYD GONÇALVES SOUZA, RITA DE CASSIA RODRIGUES, MARIA DENISIA SARAIVA NOBAYASHI, RODRIGO SANTOS FORTUNATO, CAMILLE SAYURI SARAIVA NOBAYASHI, CAROLINE LEITE MOLINA