Dados do Trabalho

Título

Como melhorar o manejo e experiência pré-operatória dos pacientes com recusa transfusional?

Descrição

Introdução/Relato de Caso: O manejo transfusional de pacientes que recusam hemocomponentes e hemoderivados é um desafio, principalmente quando se trata de questões religiosas, como os pacientes Testemunhas de Jeová. Relatamos um caso inspiracional de uma paciente feminina, 77 anos, hipertensa, diabética e com histórico de doença arterial coronariana, admitida com quadro de dor torácica desencadeada por esforço físico, de início há 5 anos, com piora progressiva. Cateterismo com padrão multiarterial. Apresentava anemia em período pré-operatório, com etiologia a esclarecer. Foi entendido pela equipe que o risco de infarto agudo do miocárdio e morte súbita superariam o benefício da otimização da hemoglobina. Realizada conversa com paciente e familiares, expondo os riscos do procedimento associados a tal grau de anemia, e a possibilidade de transfusão foi recusada prontamente. No entanto, autorizaram recursos como o Sistema de Recuperação de Sangue Autólogo e o que a equipe considerasse necessário desde que não fosse sangue. Realizado procedimento, sob anestesia geral balanceada, com tempo de circulação extracorpórea de 50 minutos. Durante o ato operatório, houve uma redução dos valores da hemoglobina, de 10,3 g/dL para 8,3 g/dL, hematócrito de 32,3% para 26%. Cirurgia foi realizada, sem a transfusão de hemocomponentes, apenas o reaproveitado pelo Autolog. Ao término da cirurgia, a paciente foi encaminhada à unidade de terapia intensiva e evoluiu sem complicações. Discussão: O que chamou atenção da equipe assistente foi a má experiência do paciente e da família no pré-operatório, além do vinculado diretamente à cirurgia em si. De forma geral, observa-se que a recusa quanto ao uso de sangue total e hemocomponentes é consenso entre as TJ, porém, existe um desconhecimento amplo das diversas armas terapêuticas que envolvem hemoderivados, hemocomponentes, derivados de animais, edição genética, ultra processamento de hemocomponentes em que não há uma proibição formal e podem ser utilizados, cujo esclarecimento pode resultar na aceitação do paciente. A decisão final sempre é do paciente e possui uma variabilidade ampla na comunidade. Se o paciente aceita soro antiofídico (imunoglobulina oriunda de equinos), por que não aceitar um pericárdio bovino. Se aceita insulina humana recombinante, porque não aceitar fibrinogênio (um hemoderivado oriundo de um pool de plasma humano após processo de pasteurização, nano filtração) e assim por diante. Conclusão: Portanto, propomos um questionário elucidativo guiado aos pacientes de recusa transfusional para serem anexados ao termo de consentimento no nosso serviço. O objetivo é elaborar um plano terapêutico que minimize os riscos, maximize as opções terapêuticas e respeite a autonomia do paciente, visando o cuidado integral e melhor desfecho possível.

Referência 1

1. AZAMBUJA, Letícia Erig Osório de; GARRAFA, Volnei. Testemunhas de jeová ante o uso de hemocomponentes e hemoderivados. Rev Assoc Med Bras, Brasília, v. 56, n. 6, p. 705-710, jul. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/MncdK4zsTCnXL6KstYfB8Ty/?format=pdf&lang=p. Acesso em: 06 jul. 2024.

Referência 2

2. TANAKA, Akiko; OTA, Takeyoshi; URIEL, Nir; ASFAW, Zewditu; ONSAGER, David; LONCHYNA, Vassyl A.; JEEVANANDAM, Valluvan. Cardiovascular surgery in Jehovah's Witness patients: the role of preoperative optimization. The Journal Of Thoracic And Cardiovascular Surgery, [S.L.], v. 150, n. 4, p. 976-983, out. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2015.06.059. Disponível em: https://www.jtcvs.org/article/S0022-5223(15)01087-9/fulltext. Acesso em: 10 jul. 2024.

Palavras Chave

Hemoderivados; hemotransfusão