Dados do Trabalho


Título

Artrodese lombar em paciente portador de esclerose múltipla: um relato de caso

Descrição

INTRODUÇÃO:

A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune, frequente em mulheres de 20 a 40 anos ou 45 a 60 anos, em que autoanticorpos mediados por células T contra mielina e resposta inflamatória ocorrem no cérebro e medula espinhal, levando a uma falha de condução nervosa. Pacientes podem apresentar parestesias, fraqueza muscular, distúrbios sensoriais, alterações respiratórias. Também pode levar a função autonômica diminuída, desencadeando reações adversas a medicamentos simpaticomiméticos.

RELATO DE CASO:

M.C.D.P, sexo feminino, 68 anos, portadora de esclerose múltipla em uso de natalizumabe, teve última crise da doença há 6 anos, fraqueza muscular intensa em membros inferiores. Há 2 anos apresentava dor lombar refratária a analgésicos comuns e dificuldade em manter-se sentada. Após afastada possibilidade de novo surto da esclerose múltipla, foi diagnosticada com espondilolistese L5-S1, com proposta cirúrgica.

Realizada artrodese lombar sob anestesia geral balanceada, indução venosa com fentanil 200 mcg, lidocaína 80 mg, propofol 150 mg, rocurônio 50 mg e IOT com TOT 7,5 aramado fácil. Manutenção com sevoflurano inalatório e dexmedetomidina em BI. Punção de artéria radial esquerda para monitorização de PAI, além de punção venosa profunda em VFE, guiada por USG. Monitoramento do bloqueio neuromuscular com TOF, feita infusão de cristalóides frios e não utilizada manta térmica. 

Logo após indução anestésica, paciente apresentou hipotensão arterial refratária a bolus de efedrina e adrenalina, sendo iniciada infusão de noradrenalina. Foi evidenciada labilidade pressórica (PA: 53x20 mmHg - 190x70mmHg) durante a cirurgia. Ao final das 5 horas de procedimento, paciente foi extubada, após reversão do bloqueio com sugammadex 200 mg e TOF > 0,9. Manteve-se eupneica em ar ambiente e estável hemodinamicamente sem aminas.

DISCUSSÃO:

A indução venosa ou anestésicos inalatórios parecem não apresentar efeitos adversos na condução nervosa. O uso de BNM deve ser feito com cautela, a succinilcolina deve ser evitada devido ao risco de hipercalemia e os não despolarizantes, principalmente em casos de grande destruição muscular. No caso relatado, a paciente foi submetida ao bloqueio neuromuscular com rocurônio, mas realizada monitorização com TOF.

A hipertermia perioperatória pode ser causa de recorrência e exacerbação da EM por alterar a condução nervosa em regiões desmielinizadas. Por isso foi realizada infusão de cristaloides resfriados e não utilizada manta térmica. Além disso, os pacientes podem apresentar maior risco de disfunção autonômica, como evidenciado no caso relatado, sendo importante considerar uma monitorização de PA invasiva.

Diante desse caso, é notável que pacientes portadores de doenças neuromusculares devem ter anestesia diferenciada. O estresse anestésico e perioperatório podem desencadear crises de exacerbação da EM, apesar de não existir consenso de que a anestesia pode estar relacionada a novas lesões desmielinizantes.

Referência 1

Eduardo Barbin Zuccolotto EB, Coelho Machado Nunes G, Soares Lopes Nogueira R, Pagnussat Neto E, Nociti JR.Controle anestésico de paciente com esclerose múltipla – relato de caso. Rev. Bras. Anestesiologia; 2016;66; 414-417.

Referência 2

Ala Nozari. Aranya Bagchi, Richa Saxena, Brian T. Bateman. Transtornos neuromusculares e outros transtornos genéticos.Miller Anestesia. 8a edição. Elsevier.

Palavras Chave

esclerose múltipla EXACERBAÇÃO ANESTESIA

Área

Doenças Neuromusculares e Medicamentos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET S.A.HOSP.MUN.MIGUEL COUTO - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

ANA LUIZA DIAS, RAFAEL MERCANTE LINHARES, HENRIQUE VIANA LYRA, JULIANA CAEIRO CHAVES