Dados do Trabalho
Título
Retenção Placentária Pós FIV: Relato de Caso
Descrição
INTRODUÇÃO: A hemorragia pós parto (HPP) é apontada pela OMS como uma das principais causas de mortalidade materna, sendo a retenção placentária um dos fatores da HPP, com prevalência de até 3,3% dos partos vaginais.
CASO CLÍNICO: Paciente A.L., 29 anos, 39 semanas de gestação, interna-se para indução de parto normal. Nega alergias. Comorbidades: Obesidade (IMC 31), Diabetes, Síndrome do Ovário policístico. G3P2A1, Realizou FIV (fertilização in vitro) nas 2 últimas gestações. Recebeu infusão de ocitocina para indução. Paciente solicita analgesia com 5cm de dilatação, sendo realizado duplo bloqueio em L3-L4 com infusão intratecal de bupivacaína hiperbárica 2,5mg + fentanil 25mcg + morfina 50mcg. Realizada manutenção em bolus intermitente no cateter, com bupivacaína 0,0625% 8-10mL a cada 60-90 minutos. Após 6 horas de analgesia, evoluiu para parto normal, sendo realizado 100mcg de carbetocina para prevenção de atonia uterina. Paciente cursou com dequitação prolongada. Foi realizado 15mL de lido a 2% no cateter peridural para extração placentária. Evoluiu com hemorragia excessiva, totalizando 2.700mL de sangramento e com alterações dos sinais vitais (choque índex 1,3, 90x60mmHg, 120 bpm). Para tratamento, foram puncionados 2 acessos calibrosos (14 e 16G), realizados 2 L de cristalóide, 2 concentrados de hemácia, além de reposição de cálcio, aquecimento com manta térmica, ergometrina, ácido tranexâmico e misoprostol. Para diagnóstico diferencial, foi solicitado ROTEM, que não evidenciou deficiência de fatores de coagulação (FIBTEM A5 15mm). Após manejo hemodinâmico, paciente seguiu para UTI e evoluiu com melhora, hemoglobina pós transfusional de 10g/dL sem complicações.
DISCUSSÃO: O caso descrito evidencia ocorrência de retenção placentária, importante causa de HPP. A demora na dequitação (geralmente mais do que 30 minutos) está associada à maior taxa de retenção. Como fator de risco destaca-se a realização de FIV prévia, associada à placentação anômala. Para tratamento, deve-se manter DO2 adequada a partir de infusão de cristalóides e/ou hemocomponentes, controlar sangramento (uso de uterotônicos e manobras mecânicas) e evitar coagulopatia, com atenção aos níveis de cálcio, fibrinogênio, pH e temperatura. No caso, foi realizado diagnóstico precoce de retenção placentária, com abordagem do sangramento a partir do tratamento cirúrgico, obtenção de acessos calibrosos, uso de uterotônicos e ácido tranexâmico para prevenção de hiperfibrinólise. Foi também realizada reposição de cálcio e aquecimento, a fim de evitar coagulopatia. O ROTEM demonstrou ausência de hipofibrinogenemia, que é uma alteração comum no cenário de sangramento obstétrico.
CONCLUSÃO: É necessário estar atento para reconhecimento precoce de hemorragia pós parto, com condução rápida para evitar complicações pós-operatórias. Tratar a causa base do sangramento, ofertar reposição sanguínea e evitar coagulopatia são pilares do tratamento e devem ser priorizados no manejo desses casos.
Referência 1
Weeks AD. The retained placenta. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2008 Dec;22(6):1103-17. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2008.07.005. Epub 2008 Sep 14. PMID: 18793876.
Referência 2
Friedman AJ. Obstetric hemorrhage. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2013 Aug;27(4 Suppl):S44-8. doi: 10.1053/j.jvca.2013.05.016. PMID: 23910536
Palavras Chave
Retenção placentária; hemorragia pós parto; tromboelastograma
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.HOSP.SERVID.PUBL.DE SP - São Paulo - Brasil
Autores
ANDRE VICTOR ANDRE VICTOR FERNANDES BARBALHO, DANIEL DA ESCÓSSIA MELO SOUSA, RAPHAEL FALCÃO CUNHA LIMA DE QUEIROZ, VITOR VIEIRA BUENO, FRANCISCO NUNES DE ALENCAR NETO, RICARDO TADEU DA SILVA ONETY JUNIOR