Dados do Trabalho


Título

Choque séptico devido a translocação bacteriana em cirurgia para desobstrução intestinal

Descrição

Introdução:
A translocação bacteriana é um fenômeno clínico no qual bactérias ou seus produtos passam do lúmen intestinal para a circulação sistêmica, potencialmente acarretando um quadro séptico agudo. Embora mais comum em pacientes com doenças hepáticas ou estados de imunossupressão, essa condição pode ocorrer em outras situações, como na manipulação de alças intestinais durante cirurgia para obstrução intestinal. O choque séptico intraoperatório é uma complicação rara, mas grave, que pode desafiar a equipe anestésica e cirúrgica.

Relato de Caso:
Paciente masculino, 55 anos, 80kg, 1,85m, hipertenso. Foi admitido ao bloco cirúrgico em caráter de urgência para uma colectomia parcial por obstrução intestinal causada por neoplasia de cólon descendente. Realizado anestesia geral com: sufentanil (50 mcg), propofol (200 mg), suxametônio (80 mg) e, posteriormente, rocurônio (50 mg). A manutenção anestésica envolveu: remifentanil (0,2 mcg/kg/min), lidocaína (1,2mg/kg/h) e sulfato de magnésio (30mg/kg em 30 minutos). Feita antibioticoprofilaxia com ceftriaxona e metronidazol antes da incisão cirúrgica. Realizado dexametasona 10mg, hioscina 20mg e dipirona 2500mg 10 minutos após a indução. Com duas horas de procedimento, paciente apresentou queda súbita e intensa da pressão arterial (42/28(34)mmHg) durante manipulação do cólon, que estava altamente distendido. Neste momento, paciente havia apresentado sangramento desprezível. Realizado resgate pressórico com adrenalina, puncionada artéria radial para monitorização e punção de acesso venoso central. A estabilização do quadro foi realizada através da infusão contínua de noradrenalina em dose moderada. Não foram visualizadas alterações no ECG características de isquemia; não ocorreram alterações nos parâmetros ventilatórios ou sinais cutâneos característicos de anafilaxia. A gasometria arterial demonstrou acidose metabólica com lactato aumentado e hemoglobina de 14g/dL. Ionograma sem alterações. No pós-operatório, o paciente foi transferido para a UTI, onde permaneceu por cinco dias, apresentando melhora progressiva dos parâmetros hemodinâmicos e laboratoriais, sendo extubado no segundo dia. Após estabilização, foi transferido para a enfermaria onde recebeu alta hospitalar três dias depois.

Discussão:
Este caso destaca a importância do reconhecimento precoce e manejo eficaz do choque séptico intraoperatório. A translocação bacteriana em casos de obstrução intestinal pode resultar em rápida deterioração hemodinâmica, exigindo intervenção imediata. A manipulação cirúrgica do cólon altamente distendidos pode aumentar o risco, devido ao comprometimento da integridade da mucosa e pressão intraluminal elevada.
A estabilização rápida com agentes vasopressores, juntamente com suporte ventilatório e monitorização hemodinâmica invasiva, foi crucial para o desfecho favorável do paciente. Ademais, a avaliação e exclusão de outras causas mais comuns para o quadro de choque são essenciais para um manejo adequado.

Referência 1

Rhodes A, Evans LE, Alhazzani W, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med 2017; 43:304.

Referência 2

de Jong PR, González-Navajas JM, Jansen NJ. The digestive tract as the origin of systemic inflammation. Crit Care. 2016;20:279.

Palavras Chave

Choque séptico; Translocação Bacteriana; Obstrução intestinal

Área

Sistemas Gastrointestinais e Hepáticos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

RESIDÊNCIA - HOSPITAL FELICIO ROCHO MG (MANTENEDORA FUNDAÇÃO FELICE ROSSO) - Minas Gerais - Brasil

Autores

SÉRGIO GARZON BATISTA NANI, DAIANE APARECIDA VILELA DE REZENDE ROMAN, ANA FLAVIA CORREIA MAGALHAES, BIANCA BASTOS MIRANDA, CLÁUDIA HELENA RIBEIRO SILVA, PRISCILA RIBEIRO MAIA