Dados do Trabalho


Título

Raquianestesia para amputação de MIE em paciente com Neuropatia de Fibras Finas por Hanseníase

Descrição

Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa cujas manifestações sintomatológicas envolvem a resposta inflamatória ao bacilo Mycobacterium leprae nos tecidos, principalmente pele e nervos periféricos. Os nervos afetados cursam com perdas funcionais, sensitivas, autonômicas, motoras e espessamento. Pacientes podem evoluir com lesões acidentais por perda sensitiva periférica e necessitarem de intervenção cirúrgica. Este caso clínico visa demonstrar a importância da compreensão da fisiopatologia da dor neuropática complexa para condução adequada de anestesia em pacientes portadores. Relato de Caso: AC, 47 anos, masculino, 50kg, ASA III, Osteomielite em membro inferior esquerdo, indicada amputação a nível de coxa pela ortopedia. Comorbidades: ex-tabagista, HAS, hanseníase virchowiana em tratamento, dor crônica neuropática por polineuropatia hansênica e amputação prévia de membros superiores e inferior direito. Realizada raquianestesia com bupivacaína hiperbárica 10mg + Morfina 80 mcg em L4-L5, agulha Quincke 25G e teste de refluxo liquórico/barbotagem. Após 5 minutos, paciente refere não conseguir elevar membro inferior e parestesia a nível de T8. Sedação com midazolam 4mg + fentanil 50 mcg EV. Paciente não demonstra dor à incisão/uso do eletrocautério, porém, à elevação do membro, queixa de dor intensa. Administrado Cetamina 0,3mg/kg + Propofol em TCI (alvo 1,5 mcg.mL-1) e o procedimento foi tolerado sem novas queixas. Ao despertar em SRPA, queixa novamente de dores intensas difusas. Administrado morfina 4mg EV, sem sucesso em controle da dor. Após discussão com equipe de Dor, realizado bloqueio simpático venoso com lidocaína 100mg em 30 minutos, com remissão completa da dor e condições de alta. Discussão: A neuropatia hansênica ocorre através de mecanismos ainda não elucidados. O M. leprae coloniza as células de Schwann, induz desmielinização, inflamação e formação de microneuromas. Estas lesões geram alterações de sensibilidade negativas e positivas, inicialmente em fibras finas e depois em fibras grossas mielinizadas. A teoria da inibição segmentar propõe que a transmissão dos estímulos das fibras Aδ e C (vias da Dor) para cornos dorsais da medula pode ser atenuada pelas fibras Aα e Aβ (motoras e propriocepção) por estímulo de interneurônios inibitórios. Durante inflamação, essas fibras podem alterar-se e causar sensações aberrantes de dor. Na ocorrência de bloqueio diferencial após raquianestesia, alterações de condução dos estímulos podem gerar dor à manipulação cirúrgica e necessidade de intervenção anestésica. Conclusão: É necessário ter atenção quanto ao mecanismo fisiopatológico das neuropatias complexas e o anestesiologista deve estar preparado para interpretar efeitos colaterais comuns que podem se apresentar de forma atípica e conhecer estratégias efetivas de controle da intercorrência.

Referência 1

1. Tomaselli, Pedro José; Hanseníase forma neural pura: aspectos clínicos e eletroneuromiográficos dos pacientes avaliados no serviço de doenças neuromusculares do HCRP da USP no período de março de 2001 a março de 2013, 2014. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP, 2014

Referência 2

2. David Scollard (2024); Leprosy: Epidemiology, microbiology, clinical manifestations, and diagnosis; UpToDate; Visitado em 21 de Junho de 2024 https://www.uptodate.com/contents/leprosy-epidemiology-microbiology-clinical-manifestations-and-diagnosis

Palavras Chave

NEUROPATIA; HANSENÍASE; raquianestesia

Área

Doenças Neuromusculares e Medicamentos

Fonte de financiamento

Recursos Próprios

Instituições

CET MENINO JESUS DE PRAGA - Sergipe - Brasil

Autores

FELIPE BATISTA SANTOS, JOSE CLEDIO LOPES SOBRINHO, LEONARDO SANTANA RAMOS OLIVEIRA, IAGO VINICIUS ODARA NASCIMENTO ARAUJO, FABRICIO DIAS ANTUNES, ANDRE JESUS BARRETO