Dados do Trabalho
Título
Manejo anestésico em paciente portadora de anemia falciforme para realização de implante renal, relato de caso.
Descrição
Introdução: A Anemia Falciforme (AF) é uma doença com herança genética. Ocorre mutação no gene da cadeia beta de hemoglobina, levando a formação da hemoglobina S (HbS). Os eritrócitos adquirem a forma de foice com a polimerização da HbS, com maior rigidez, resultando em crises vaso-oclusivas. Os fatores de risco para essas crises são observados durante uma anestesia geral, ocasionando maior morbimortalidade. CASO CLÍNICO: Feminino, 46 anos, 51 kg, 160 cm, portadora de anemia falciforme, hipertensão, diabetes, Doença Renal Crônica dialítica (DRCd) por nefropatia diabética. Admitida para implante renal à esquerda. Sem relato de hemotransfusão prévia e crises falcêmicas, sem tratamento há 34 anos. Lúcida, hidratada, capacidade funcional < 4 METs e NYHA III; Exames: creatinina 6,8 mg/dl, potássio 6 mmol/L e ureia 49 mg/dl. Ecocardiograma com fração de ejeção de 67%. Indução anestésica com midazolam 2 mg, fentanil 150 mcg, lidocaína 30 mg, propofol 100 mg e rocurônio 30 mg, manutenção com sevoflurano. No intraoperatório, paciente apresentou instabilidade hemodinâmica. Gasometria arterial evidenciando acidose metabólica e hemoglobina (Hb) 5,5 mg/dl. Realizada infusão de 50ml bicarbonato de sódio, hemotransfusão de 2 concentrados de hemácias e hidratação venosa com cristaloide aquecido em um total de 2500ml. Encaminhada à UTI com NORA 0,4 mcg/kg/min após tentativas de estabilização com hidratação e transfusão sem sucesso, em prótese ventilatória, com melhora parcial do distúrbio metabólico e Hb 7,5 mg/dl. DISCUSSÃO: A patogênese das crises na AF envolve fatores precipitantes como dor, desidratação, hipotermia, acidose, hipóxia, infecção, hipotensão e hemotransfusão em excesso. A oxigenação permite ao eritrócito sair da forma de foice para sua forma normal, porém a exposição aos fatores citados torna esse processo irreversível, resultando em crises vaso-oclusivas. A desidratação intra-eritrocitária é uma causa de aumento da taxa de eritrofalciformação. Sendo assim, os pacientes devem receber hidratação adequada no período pré e pós-operatório. A hipoxemia eleva as chances de infarto e infecção pulmonar, aumentando o risco de síndrome torácica aguda. A hipotermia pode ser evitada com o uso de cobertores térmicos, colchões aquecidos, líquidos parenterais aquecidos e controle adequado da temperatura da sala de cirurgia. Durante o pré-operatório, optou-se pela não realização de hidratação venosa rigorosa devido ao quadro de DRCd associada. Realizada hemotranfusão e hidratação venosa intraoperatória como tentativa de melhorar níveis hematimétricos para alcançar o máximo aporte de oxigênio na microcirculação para reestabelecer a estabilidade hemodinâmica. Para manter a temperatura intraoperatória utilizamos infusões aquecidas e manta térmica, mas apresentamos dificuldade em manter a sala cirúrgica aquecida. Visamos evitar a polimerização das hemácias, prevenindo complicações agudas da AF, apesar da dificuldade devido a outras comorbidades concomitantes.
Referência 1
Tobin JR, Butterworth J. Sickle cell disease: dogma, science, and clinical care. Anesth Analg. 2004;98:283-4.
Referência 2
Adjepong KO, Otegbeye F , Adjepong AY : Perioperative Management of Sickle Cell Disease . May 2018; 29755709
Palavras Chave
anemia falciforme; Anestesia geral
Área
Sistema Hematológico, Coagulação, Transfusão, Reposição Volêmica e PBM
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.HOSP.FEDERAL DE BONSUCESSO - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
JULIANA DE OLIVEIRA FIGUEIRÓ, TALES DRESCH BRIGIDE, ANGELO JORGE QUEIROZ RANGEL MICUCI, AMERICO SALGUEIRO AUTRAN NETO, LAÍS MARTINS NOGUEIRA, CASSIANNA OLIVEIRA FRANGO DA SILVA