Dados do Trabalho
Título
Manejo Anestésico de Gestante com Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER) Submetida a Cesariana com Anestesia Peridural: um Relato de Caso.
Descrição
INTRODUÇÃO: A estratificação de risco cardiovascular em gestantes cardiopatas é mandatória para a escolha da via de parto e, consequentemente, da técnica anestésica. Essa estratificação é feita através de escores validados, como o da Organização Mundial de Saúde, que gradua essa população em quatro níveis, de acordo com a gravidade da patologia cardiovascular. Gestantes com cardiopatias graves, como ICFER com FE < 30% ou Classe funcional New York Heart Association (NYHA) III-IV possuem elevada morbimortalidade. Nesses casos, essas pacientes devem ser acompanhadas por equipe multidisciplinar para planejamento do parto. RELATO DE CASO: Mulher, 26 anos, G5P3(C)A1, 33s5d, hipertensa crônica, ICFER classe funcional NYHA II sem etiologia definida (ECOTT recente com FE 30%) e passado de pré-eclâmpsia (PE) grave. Internada em unidade hospitalar por sintomas de iminência de eclâmpsia. Persistiu com picos hipertensivos e devido a possibilidade de descompensação da ICFER, a equipe de obstetrícia optou por interromper a gestação cirurgicamente. A técnica anestésica escolhida foi o bloqueio do neuroeixo peridural com passagem de cateter peridural (CP). Instalada monitorização básica associada a monitorização invasiva da pressão arterial e punção de dois acessos venosos periféricos calibrosos (18G). O espaço peridural foi identificado por meio da técnica de Dogliotti a nível de L3-L4 com agulha de Tuohy 17G, com introdução de CP 18G após dose-teste. A dose inicial administrada consistiu em 5 mL de lidocaína 2% com vasopressor, seguida de 5 mL pelo CP, 2 mg de morfina e 100 μg de fentanil. Após teste do nível do bloqueio, foi constatada a necessidade de complementação da dose de anestésico local com instilação de 5 mL adicionais pelo CP, com bloqueio satisfatório após. A extração fetal ocorreu com boa vitalidade. Durante revisão de hemostasia, a paciente referiu escape álgico de pequena monta em porção lateral abdominal, sendo então efetuada nova aplicação de 3 mL de anestésico local pelo CP com cessação da queixa. A paciente manteve estabilidade hemodinâmica durante todo procedimento, sem indícios de descompensação da ICFER. Após o término da cirurgia realizou-se 10 mL de ropivacaína 0,2% pelo CP e a paciente foi encaminhada para a UTI, onde foi admitida sem dor e estável. DISCUSSÃO: A técnica anestésica de preferencial em pacientes cardiopatas é o bloqueio de neuroeixo. A anestesia geral fica reservada para pacientes com instabilidade hemodinâmica ou com contraindicações ao bloqueio. As gestantes cardiopatas, principalmente com ICFER, são hemodinamicamente limítrofes, tornando mais complexo o manejo da simpatólise gerada pela raquianestesia. Diante disso, o bloqueio peridural surge como uma opção mais segura, pois permite uma melhor titulação das doses de anestésico e alterações hemodinâmicas graduais. É recomendado, além da monitorização básica, a cateterização arterial para avaliação contínua e ajuste fino da pressão arterial.
Referência 1
Arendt KW, Lindley KJ. Obstetric anesthesia management of the patient with
cardiac disease. International Journal of Obstetrics Anesthesia, 2019, 37, 73-85.
Referência 2
Brull R, Macfarlane AJR, Chan VWS et al. Spinal, epidural, and caudal anesthesia. In: Gropper MA. Miller’s Anesthesia. 9 ed. Philadelphia, PA. Elsevier, 2020: 1413-1449.
Palavras Chave
cardiopatia em gestante
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET S.A.INST.MATERN.INFANT.PE-IMIP - Pernambuco - Brasil
Autores
LUCAS RIBEIRO COUTINHO, CATARINA PADILHA TINOCO, ANDRESSA CORREIA SOARES, CARLOS VINICIUS PACHECO DOS SANTOS GUARANA, RICARDO VIEIRA SIQUEIRA, GUSTAVO HENRIQUE FRANÇA DE MORAES