Dados do Trabalho
Título
Desafios da anestesia em paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica – Relato de Caso
Descrição
Introdução - Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva do neurônio motor, que afeta 1/50.000 pessoas por ano, com poucos relatos na literatura. Há perda progressiva da força muscular, e o paciente geralmente morre por insuficiência respiratória 3 a 5 anos após o diagnóstico, com 20% sobrevivendo 5 a 10 anos e 10% por mais de 10 anos. A condição pode afetar a musculatura bulbar e respiratória, e se apresentar com sinais de comprometimento dos neurônios motores superiores (fraqueza, espasticidade e hiperreflexia), e inferiores, (fraqueza, atrofia, fasciculações e câimbras). Devido ao seu caráter progressivo, os pacientes frequentemente necessitam de procedimentos anestésicos relacionados ao cuidado paliativo e para o tratamento de patologias cirúrgicas. Por ser uma doença rara e com sintomatologia heterogênea, é um desafio para o anestesista, que deve estar atento ao maior risco de insuficiência respiratórias no pós-operatório, disautonomia, aspiração e complicações relacionadas ao uso de bloqueadores neuromusculares (BNM). A ELA cursa com denervação da musculatura, acarretando proliferação de receptores imaturos de acetilcolina, o que torna contraindicado o uso de succinilcolina. A fraqueza muscular característica da doença implica em uso cauteloso de BNM adespolarizantes, sempre com uso de monitorização do bloqueio neuromuscular. Anestésicos inalatórios halogenados têm ação na transmissão neuromuscular, podendo potencializar a ação de BNM Hipnóticos e analgésicos de curta duração são escolhidos preferencialmente, com o intuito de reduzir o risco de depressão respiratória no pós-operatório. Relato de Caso - Homem, 50 anos, diagnosticado há 10 anos com ELA, com parestesia de membros superiores e paralisia de membros inferiores, em uso de riluzol e sertralina, apresentou quadro de colelitíase e episódios de colecistite, com proposta de colecistectomia videolaparoscópica. Cirurgia realizada sob anestesia geral venosa total sob monitorização padrão não-invasiva. Indução anestésica com propofol (alvo 2mcg/ml), remifentanil (0,2mcg/kg/min) e lidocaína (1 mg/kg), intubação orotraqueal atraumática, após plano anestésico adequado, sem utilização de BNM. Como analgesia pós-operatória foi realizada infiltração dos portais cirúrgicos com anestésico local pela equipe cirúrgica, 100mg de cetoprofeno e 2g de dipirona. O procedimento transcorreu sem intercorrências e o paciente foi extubado ao final, sendo encaminhado ao CTI, com controle álgico adequado e alta após 24h Discussão - Pacientes com ELA demandam cuidado perioperatório multidisciplinar, otimização das condições clínicas no pré-operatório, utilização de técnicas anestésicas que minimizem os riscos de piora da fraqueza muscular e de complicações respiratórias e acompanhamento pós-operatório em terapia intensiva.
Referência 1
Hoeper MA, Barbara DW, Watson JC, et al. Amyotrophic lateral sclerosis and anesthesia: a case series and review of the literature. Journal of Anesthesia, 2019; 33: 257-265
Referência 2
Paul DJ Wright M, Palmer MJ, et al. Perioperative management of patients with amyotrophic lateral sclerosis: A narrative review. Anaesthesia and Intensive Care, 2022: 50(5): 345-360
Palavras Chave
Esclerose Lateral Amiotrofica; Anestesia; doenças neuromusculares
Área
Doenças Neuromusculares e Medicamentos
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET HOSP.UNIV.DA FAC.CIÊNC.MÉD.MG - Minas Gerais - Brasil
Autores
FELIPE RIBEIRO CAMARGOS, EDUARDO MARIANO OLIVEIRA MELO, MARIA CLARA REZENDE CAMPOS, GEMA MONSERRATE LOOR MUNOZ, BRIZA OLIVEIRA GONÇALVES RUST, DEBORA CRISTINA GUERRA AMARAL FÓSCOLO