Dados do Trabalho
Título
Relato de caso - Anestesia Subdural em Lactente Prematuro
Descrição
Introdução
Desde sua introdução no século XIX, a raquianestesia tem evoluído e se tornado uma técnica anestésica amplamente utilizada, ainda que menos comum na pediatria. Nas últimas décadas, o interesse pela técnica tem aumentado devido seu potencial benefício em alguns cenários, principalmente em crianças prematuras, que apresentam maior risco de desenvolver apneia pós-operatória.
Este relato tem como objetivo examinar a aplicação da raquianestesia como alternativa à anestesia geral em lactente prematuro, abordar aspectos técnicos e respostas observadas durante e após o procedimento.
Relato do caso
Trata-se de lactente masculino, prematuro (35 semanas por aneurisma de cordão umbilical), com 2 meses e 13 dias (Idade corrigida: 1m 11 dias), 3,7kg, hígido. Admitido em centro cirúrgico para hernoirrafia inguinal e hidrocele bilaterais. Monitorizado com cardioscopia, pressão arterial não invasiva, oximetria e termômetro axilar. Foi submetido a bloqueio subaracnóideo sem sedação. Punção única mediana com agulha Quincke 26G entre L5 e S1, atraumática. Administrada solução com 3,7mg de bupivacaína hiperbárica em 1 mL. Apresentou bloqueio motor imediato em membros inferiores e perda de nocicepção. A cirurgia teve duração de 01:05hs e o bloqueio motor se manteve por 01:30hs.
Ao final do procedimento feitos bloqueio íleo-hipogástrico e íleo-inguinal com 0,3mg de ropivacaína para otimização da analgesia pós operatória. Não houve intercorrências. Retomou amamentação após poucos minutos em sala de recuperação pós-anestésica (SRPA). Recebeu alta da SRPA 47 minutos após a admissão. Não foram relatadas bradicardia, hipoxemia e apneia em pós operatório. Teve alta para domicílio no dia seguinte.
Discussão
A anestesia geral na população pediátrica pode estar associada a apneia pós-operatória. Sendo os ex-prematuros com idade pós-conceptual inferior a 60 semanas os mais vulneráveis. 1
A incidência de apneia pós-operatória pode ser reduzida com o uso da raquianestesia. Outras vantagens desta são a ausência de manipulação das vias aéreas, menor necessidade de opioides e menor incidência de náuseas e vômitos no período pós-operatório. Além disso, lactentes apresentam menor índice de hipotensão e bradicardia devido a imaturidade simpática.1
É preciso se atentar às particularidades da técnica em neonatos. A medula espinhal deles ainda não é mielinizada, logo, concentrações mais baixas de anestésicos locais podem ser utilizadas. Por outro lado, devido aos maiores débito cardíaco e volume de liquor há maior rapidez na absorção dos agentes, o que pode levar a níveis plasmáticos tóxicos e uma duração mais curta do bloqueio. Apesar de o cone medular se localizar próximo a L3 nestes pacientes, a Linha de Tufier também está mais baixa, tornando esse marco aplicável.2
Por fim, as principais desvantagens são a maior dificuldade da técnica e maior taxa de falha. O método é contra-indicado em procedimentos com duração superior à 60 minutos e na vigência de hipertensão intracraniana. 1
Referência 1
McCann ME, de Graaff JC, Dorris L, et al. GAS Consortium. Neurodevelopmental outcome at 5 years of age after general anaesthesia or awake-regional anaesthesia in infancy (GAS): an international, multicentre, randomised, controlled equivalence trial. Lancet. 2019 Feb 16;393(10172):664-677. doi: 10.1016/S0140-6736(18)32485-1. Epub 2019 Feb 14. Erratum in: Lancet. 2019 Aug 24;394(10199):638. doi: 10.1016/S0140-6736(19)31958-0. PMID: 30782342; PMCID: PMC6500739. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6500739/. Acesso em: 12/06/2024.
Referência 2
Ahmad N, Greenaway S. Anaesthesia for inguinal hernia repair in the newborn or ex-premature infant. BJA Educ. 2018 Jul;18(7):211-217. doi: 10.1016/j.bjae.2018.04.004. Epub 2018 May 21. PMID: 33456835; PMCID: PMC7807980. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33456835/. Acesso em 18/06/2024.
Palavras Chave
raquianestesia; Prematuro; Anestesia pediátrica
Área
Anestesia Pediátrica
Fonte de financiamento
Recursos Próprios
Instituições
CET DO HOSPITAL VILA DA SERRA - Minas Gerais - Brasil
Autores
FERNANDA MOTA FRANCO, VIRGÍNIA MARTINS GOMES, FRANK WILLIER ARRIEL AVELAR, RAQUEL MOREIRA SANTOS, PEDRO LOBATO VILAÇA, MARIANA AZEVEDO SANTA BARBARA