Dados do Trabalho
Título
Tireoidectomia em gestante com hipertireoidismo: relato de caso
Descrição
Introdução: Cirurgias não obstétricas em gestantes são um desafio na anestesiologia seja pela presença de via aérea difícil, manutenção da estabilidade hemodinâmica para binômio materno-fetal, risco de parto intraoperatório, ou pelos riscos inerentes a doença de base e cirurgia. Este relato de caso expõe o manejo anestésico de tireoidectomia total no segundo trimestre de gestação em contexto de hipertireoidismo descompensado, sob risco de tireotoxicose no peroperatório. Relato de caso: CAO, feminino, 27 anos, G2PC1 com síndrome colestática em uso de propiltiouracil (PTU) para tratamento de hipertireoidismo por Doença de Graves, diagnosticada na primeira gestação após má evolução fetal. Encaminhada para hospital de referência para avaliação de possível hepatite medicamentosa, com suspensão do PTU à admissão. Iniciado propranolol, durante pré-operatório. Presença de níveis elevados de T4 livre e supressão de TSH, aguardando melhora clínica e exames de hepatite. Preparo com lugol a 5% 4 dias antes da cirurgia. Admitida no bloco cirúrgico para realização de tireoidectomia total com idade gestacional de 26 semanas e 5 dias. Monitorizada com oximetria, cardioscopia, PNI, termômetro e BIS. Indução anestésica venosa com propofol 120mg, lidocaína 60mg, remifentanil TCI 2ng/ml, rocurônio 50mg e dexametasona 4mg, sem intercorrências. Avaliado BCF, 120 bpm. Punção de linha arterial invasiva. Mantida em anestesia geral balanceada com remifentanil e sevoflurano. Alvo de PAM > 70 mmHg, correção com fenilefrina. Monitorização cuidadosa, sem evolução de tireotoxicose no intraoperatório. Extubada, mantendo bom padrão respiratório e estabilidade hemodinâmica. Obstetrícia avalia BCF final, 128 bpm. Discussão: O hipertireoidismo na gestante deve ser tratado adequadamente pelo risco de evoluir com complicações maternas, como cardiopatia, pré-eclâmpsia e nascimento prematuro do feto. Além disso, o feto pode evoluir com hipertireoidismo e morte fetal. Nesse relato, a impossibilidade de tratamento medicamentoso faz com que a cirurgia seja a única opção. Dessa forma, para o manejo anestésico dessa paciente com hipertireoidismo descompensado o foco deve ser no preparo, na identificação e no tratamento de tireotoxicose ao ser submetida ao manuseio e ressecção da tireoide. A literatura enfatiza que este manejo consiste em medidas suportivas com reposição volêmica, oxigênio e monitoramento. As taquiarritmias exigem uso de betabloqueadores de curta duração, como o esmolol. Altas doses de drogas antireioidianas poderiam ser uma opção se a paciente não tivesse apresentado os efeitos colaterais e tivesse a via oral disponível. É recomendado o uso de altas doses de glicocorticoides como hidrocortisona ou dexametasona a cada 8 horas por bloquearem a conversão T4 para T3 na periferia. Pela particularidade, não há ensaios clínicos comparando diferentes regimes de tratamento.
Referência 1
Cooper DS, Laurberg P. Hyperthyroidism in pregnancy. Lancet Diabetes Endocrinol. 2013;1(3):238-49.
Referência 2
Andersen SL, Knøsgaard L. Management of thyrotoxicosis during pregnancy. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab. 2020;34(4):101414.
Palavras Chave
tireoidectomia; Gestante; hipertireoidismo
Área
Anestesia Obstétrica
Fonte de financiamento
Instituição de Origem
Instituições
RESIDÊNCIA - HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFMG - Minas Gerais - Brasil
Autores
BRUNA CARVALHO OLIVEIRA, FELIPE JOSE MEDEIROS DE OLIVEIRA, ANA LUIZA DE CASTRO CARVALHO, MARCOS VICTOR SILVEIRA CRISANTO, GABRIELE FIALHO SILVEIRA